- 29 de outubro de 2024
A falta de compromisso da maioria dos homens públicos para com a sociedade a quem prestam serviços é algo enraizado. Cultura mesmo. Assumem as funções e pensam que já estão acima do bem e do mal. Não aceitam ser questionados em seus atos, principalmente naquilo que diz respeito à probidade administrativa, quinhão de interesse geral.
Parece ser esse o espírito que rege o Tribunal de Contas do Estado de Roraima. Diante da informação de que estaria ali sendo criado o cargo de ouvidor, este site, como de costume, tentou ouvir a direção do Tribunal. Em vão.
A assessoria de comunicação não respondeu a uma pauta elaborada a partir de algumas dúvidas que não são só nossas, mas de toda a sociedade. O questionário foi enviado às 9h30 de ontem. Ficamos aguardando retorno até as 19h30 (hora de Brasília). E nada! Coisa típica de autoridade que se depara com entrevistas que fogem ao oba-oba.
Uma das dúvidas diz respeito à questão financeira do Tribunal. Ao que parece, tem dinheiro fugindo pelo ladrão por aquelas bandas. Aventa-se que o ouvidor escolhido receberá gratificação da ordem de 10%. Isso, sem falar nas demais gratificações que chovem na horta dos conselheiros.
A idéia deste Fontebrasil é que se criem os cargos que queiram, sem, porém, onerar ainda mais o contribuinte. Parece um equívoco dar de mão-beijada mais dinheiro para quem já é pago para desempenhar, honestamente, suas obrigações. É fazer caridade com o chapéu alheio.
Isso, sob o manto da cara de pau travestida de probidade acima de qualquer suspeita. Nesses tempos bicudos, parece-nos que a parcimônia seria a estrada - embora não devidamente pavimentada - a ser percorrida com avidez.
O segundo questionamento - nosso e de toda a sociedade - é quanto à real importância de um ouvidor. O que poderá oferecer a um estado onde as coisas, por mais que se queiram encobertas, estão ou tornam-se às claras, e com facilidade tomam conta da opinião pública? Seria um acinte à inteligência do mais desavisado cidadão.
O que pode acontecer é não haver pessoas com o fervor patriótico interessadas em trazê-las à luz para que ocorra a devida punição dos culpados. Coisa, aliás, corriqueira neste Brasil do PT. Muita traquinagem permanece encoberta.
Em suma, nossa preocupação reside no fato de Roraima ser um dos estados mais carentes, onde as desigualdades são gritantes, socialmente falando, e muito mais acentuadas em se tratando de servidores públicos. Para piorar o cenário, grande parte das autoridades leva à risca o "velho ditado": "Farinha pouca, o meu pirão primeiro".
A imprensa tem como função social a denúncia de traquinagens, principalmente com o erário. Mas em Roraima essa prática não pegou. Os esquemas espúrios se sucedem, com raras e honrosas exceções, sob as barbas de jornalistas comprometidos até o pescoço com o sistema. Nós do Fontebrasil não capitulamos. Não é do nosso feitio.
O que dizer, então, de tudo isso? Resta à sociedade exercitar com veemência o sentimento de indignação que nos toma de assalto. Mas não somos apocalípticos. Acreditamos no novo amanhecer. Já dizia o poeta que o sonho que se sonha junto torna-se realidade. Sonhemos, pois!