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A Força da TV - Por Francisco Espiridião

Nada menos que 10 milhões de dólares foram pagos pelo contribuinte brasileiro pela passagem do herói-astronauta na nave russa. Passageiro de luxo na Soyuz TMA-8. Mais deslumbrado impossível. O objetivo maior, manter o foco da hora longe do Palácio do Planalto.


 A TV sabe a força que tem. Principalmente a Rede Globo. Foi lindo ver o sorridente tenente-coronel Marcos Pontes, o herói-astronauta, plantando feijão em algodão na Estação Espacial Internacional. Coisa que qualquer criança faz em suas experiências pueris.

Enquanto isso, o caseiro que ousou dizer a verdade contra os poderosos, digo, contra o homem mais poderoso do governo, é investigado de forma sórdida pela Polícia Federal. A pedido do Coaf, o governo em pessoa. De honrado cidadão brasileiro a perigoso investigado. Disso pouco se falou na TV.

Mas o herói-astronauta estava lá. Distribuindo entrevistas e mais entrevistas. Todas exclusivas à TV Globo. E o presidente a reboque, falando besteiras. "Vendo você aí eu me lembro de Ayrton Senna..." Pontes deve ter sentido calafrios.

Nada menos que 10 milhões de dólares foram pagos pelo contribuinte brasileiro pela passagem do herói-astronauta na nave russa. Passageiro de luxo na Soyuz TMA-8. Mais deslumbrado impossível. O objetivo maior, manter o foco da hora longe do Palácio do Planalto.

Marcos Pontes flutua sob os olhares brasileiros embevecidos - nosso astronauta no espaço. Enquanto isso, na Terra o governo torra 146 bilhões de reais com o serviço da dívida. Os bancos estouram a boca do balão. Jamais ganharam tanto.

Enquanto o astronauta brasileiro brinca sorridente de homem do espaço, ainda que alienígena entre aqueles que sabiam o que faziam na estação, em órbita, as atenções tupiniquins em terra firme esqueciam que o salário mínimo contraria ditames constitucionais.

Lindo, lindo! A TV mostra Marcos Pontes flutuando à vontade. Homenageando Santos Dumont com um chapéu Panamá igual ao do inventor, e um lenço com as siglas SD. Na Terra, a mesma TV esquece de dizer que pessoas estão morrendo à mingua nos hospitais Brasil a fora.

Com o nosso astronauta no espaço, sorridente e feliz, é fácil esquecer que nas favelas e periferias brasileiras falta educação, falta emprego, falta tudo. Aí você dirá: o astronauta já voltou de sua viagem. Liga não. Daqui a pouco vem a Copa e a história continua...

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