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FACES DA MESMA MOEDA - Márcio Accioly

A informação, como se sabe, leva muito tempo até alcançar a periferia, as extremidades do acontecimento. Além disso, vivemos num país onde o índice de analfabetismo é alto e onde poucos têm acesso a jornais ou qualquer tipo de leitura. Num país com quase 200 milhões de habitantes, a tiragem diária dos jornais em circulação é irrelevante. A maioria depende da televisão, em especial da Rede Globo, que pontificou e dominou em absoluto todos os espaços antes do advento da internet.


A informação, como se sabe, leva muito tempo até alcançar a periferia, as extremidades do acontecimento. Além disso, vivemos num país onde o índice de analfabetismo é alto e onde poucos têm acesso a jornais ou qualquer tipo de leitura.

Num país com quase 200 milhões de habitantes, a tiragem diária dos jornais em circulação é irrelevante. A maioria depende da televisão, em especial da Rede Globo, que pontificou e dominou em absoluto todos os espaços antes do advento da internet.

Mas as grandes transformações, as revoluções, não dependem de livros ou de jornais. Elas acontecem por conta de injustiça social permanente, dos desmandos administrativos evidentes e da extrema miséria. Na França pré-revolucionária (1789), as condições sociais se mostravam muito semelhantes às vividas pelo Brasil dos dias que correm. O quadro tem a mesma pintura, com pequenos retoques.

A França era um país católico, com predominância de analfabetos e uma corte a ostentar luxo incomparável enquanto a população morria de fome. As grandes mudanças, a partir do século XVIII, fizeram rolar cabeças coroadas e também as dos principais envolvidos no próprio processo de transformação, em fúria insaciável.

No fluxo constante da história, estamos a repeti-la de forma permanente. Como se parte de organismo autofágico, eternamente a se consumir. Na indiferença, ou na inconsciência do derredor, os que dirigem nossos destinos insistem em temperar fatos e ocorrências com larga dose de cinismo.

Que alternativa resta ao Brasil, neste quadro de desespero em que o príncipe barbudo se revelou sapo difícil de engolir? Na estranha dicotomia que se pretende estabelecer, como charada de mau gosto previamente resolvida, eis que se colocam como se opções únicas, no cenário da disputa, candidatos de duas legendas: PT e PSDB.

Dom Luiz Inácio (PT-SP) dispensa qualquer apresentação. Basta olhar em volta e verificar os que lhe eram bem próximos (todos traidores, segundo sua excelência), penca de larápios a surrupiar recursos públicos originados de várias fontes, na montagem de comprovado mensalão.

Geraldo Alckmin (PSDB), ex-governador de São Paulo (que não consegue empolgar), vem com uma série de escândalos não resolvidos, difíceis ou impossíveis de explicar: 69 CPIs que impediu de instalar, contratos publicitários escusos com o banco oficial Nossa Caixa, além do envolvimento de familiares diretos em irregularidades.

Igualzinho à gestão FHC (1995-2003), que confundia o público com o privado, desconhecendo limites. Agora, reportagem de Tatiana Farah (O Globo do domingo, 09), mostra que o filho de Alckmin, Thomaz Alckmin, 23, é sócio de Suellen, filha do acuputurista Jou Eel Jia, médico particular do presidenciável tucano.

Através de uma empresa cujo nome fantasia é Eco Erva, foram montadas parcerias com o governo estadual (à época da administração Geraldo Alckmin), que só da Secretaria de Educação torrou mais de um milhão de reais.

Os gastos foram "para custear diárias e transporte para que o acupunturista de Alckmin realizasse oficinas de técnicas de medicina oriental e meditação". Depois disso, que podem seus defensores alegar contra o aporte de 15 milhões de reais efetuado pela Telemar, na conta do filho de Dom Luiz Inácio? As tintas aplicadas são iguais.

Numa sociedade visivelmente em ebulição como a nossa, crescem as preocupações diante de fatos gravíssimos e a favor dos quais inexistem justificativas. Já se fala inclusive em insatisfação militar diante de tanta bandalheira. A história, está mais do que comprovado, não cansa de se repetir.

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