- 29 de outubro de 2024
BRASÍLIA - O senador petista Delcídio Amaral, presidente da CPI dos Correios, foi chamado de "judas", de "traidor" e de "canalha". Pela oposição? Não. Pelo também petista Jorge Bittar, que não acatou a votação do relatório final da comissão e queria um relatório opcional do partido.
Delcídio, um técnico da Petrobras filiado ao PT, mas com pouco traquejo político, ficou entre a cruz e a espada, ou melhor, entre o PT e Lula.
Para o partido, o ideal seria derrubar o relatório do deputado Osmar Serraglio (PMDB) e apagar rastros petistas que levam ao "valerioduto". Para Lula, o melhor seria acabar rapidinho com a CPI e as ameaças que ficaram pendentes, como as de incluir seu nome e o de Lulinha no texto. O pedido para encerrar a CPI no início de maio foi feito pessoalmente por Lula a Delcídio -e ele cumpriu.
Apesar disso, Delcídio não pode ser acusado de ter um comportamento tendencioso pró-Lula, como muito menos pró-PT. Era uma posição dificílima para qualquer um, e ninguém é perfeito, mas ele se comportou decentemente entre os terremotos da CPI. Algo que muitos petistas e muitos oposicionistas reconhecem.
Num telefonema suprapartidário, ontem, o pefelista José Jorge consolou Delcídio: "Antes ser chamado de judas e canalha por um deputado do que pela opinião pública".
O pior e mais triste é que tenha havido tanta ferida e tanta dor e o paciente não tenha se recuperado. Os mensaleiros estão ilesos, a instituição, ferida. O Conselho de Ética fez o que pôde, mas o plenário virou as costas para ele, para a verdade e para a opinião pública.
Os réus escaparam; o Congresso é que virou réu. Nove dos 15 integrantes do Conselho de Ética ameaçaram renunciar, cinco (entre os melhores, é claro) efetivamente o fizeram. E, se eles não agüentaram mais, imagine-se a opinião pública ou o eleitor.
Na ressaca de ontem, comentava-se, entre a ira e a melancolia: já que é assim, que se tragam Jefferson e Dirceu de volta. E locupletem-se todos.