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Uma acusação de pura traquinagem - Por Manoel Lima

A demarcação da Raposa/Serra do Sol soa para o povo de Roraima como mais um crime cometido por políticos sem compromissos com ruins e a terra que os abrigou, crime que mais cedo ou mais tarde terá conseqüências econômicas ruins e irreversíveis para o Estado. Dessas acusações de Édio Vieira, Ottomar Pinto está imune.


Brasília - A questão indígena de Roraima tem sido sempre um grande problema para os políticos locais, sejam eles ligados ou não ao governante de plantão, por permitir mentiras e leviandades próprias de quem não quer analisar o assunto à luz da verdade. Culpar agora o governador Ottomar Pinto pela demarcação da reserva Raposa/Serra do Sol, por não ter merecido do atual mandatário roraimense um esforço político à mais para impedir tal medida, não é de bom tom, não reflete a verdade dos fatos.

Primeiro: quando se decidiu - ou melhor, quando o governo federal decidiu aceitar os argumentos antropológicos de que a melhor saída para a questão indígena da época era demarcar em área contínua a reserva, quem estava aboletado no palácio Senador Hélio Campos não era Ottomar Pinto; e, apesar de Ottomar estar no assento governamental, já em 2005, a questão Raposa/Serra de há muito estava definida quer pela vontade soberana do Presidente Lula quer pelas decisões da Justiça, até porque a demarcação da reserva ultrapassou da esfera governamental e atendeu aos interesses internacionais pela aérea.
Essa é a grande verdade, que muitos políticos de Roraima fazem dela vista grossa.

Segundo, porque a questão da demarcação de áreas indígenas foge da alçada dos governos estaduais. Tem sido sempre assim, porque a Funai teima em não aceitar os argumentos, sejam eles convincentes ou não, de políticos com ou sem mandato, contrários ao assunto. Pelo que consta de suas investidas sobre o assunto demarcação, Ottomar Pinto tem sido ao longo de sua trajetória política na Amazônia contra se criar áreas para o confinamento dos nossos indígenas.

A demarcação da reserva indígena Yanomami feita no início do governo Collor em novembro de 1991 mereceu de Ottomar Pinto, então governador, talvez o maior protesto que um político já fizera contra a Funai por sua política torta e apátrida de preservação dos nossos índios. Collor, através do seu Ministro de Justiça Jarbas Passarinho prometeu a Ottomar não demarcar a área; mas um encontro com o então governador do Amazonas, o hoje senador Gilberto Mestrinho, Collor se apressou em avisar: "vou demarcar porque não suporto mais as pressões dos organismos internacionais".

E Collor, a partir daí, não mais recebeu os governadores dos estados que teriam suas terras demarcadas para doá-las aos Yanomami. E assinou o decreto de demarcação num feriado, dia 15 de novembro, uma sexta-feira, dia em que deputados e senadores estão fora de Brasília por culpa do ofício de suas férias semanais. A decisão de Collor pegou todo mundo de surpresa, mas toda e qualquer reação a ela não foi mais do que alguns editoriais de primeira página do jornal carioca O Globo e de outros periódicos de circulação nacional.

Lembro que o então governador de Roraima foi a Brasília tentar reverter a situação junto ao governo e seu intento foi em vão. A decisão de Collor era - como foi - irreversível. Quanto à demarcação da Raposa/Serra do Sol, é uma outra história, outros políticos poderiam ser responsabilizados por esse ato contrário aos interesses de Roraima e do País; políticos que dispunham de força e prestígio(?) junto ao governo federal e nada fizeram

Aliás, o deputado Édio Vieira não tem sido de agora o garoto de recado do seu chefe político Romero Jucá. Vem de longas e tenebrosas épocas! Essa sua postura não pode se ajustar ao perfil de homem público, que deveria usar em defesa dos interesses de Roraima.

Romero Jucá está chutando para tais interesses. A ele interessa sim os cargos que tenazmente briga em Brasília para ocupá-los; a ele, senador, interessa sim estar de bem com o poder central e dele se locupletar de suas benesses. Não será com esse discurso mentiroso e cheio de acusações infames que Édio Vieira ganhará a confiança e o respaldo dos eleitores roraimenses.

A demarcação da Raposa/Serra do Sol soa para o povo de Roraima como mais um crime cometido por políticos sem compromissos com a terra que os abrigou, crime que mais cedo ou mais tarde terá conseqüências econômicas ruins e irreversíveis para o Estado.

Dessas acusações de Édio Vieira, Ottomar Pinto está imune. Talvez seja o velho brigadeiro o único político a estar de bem com vida quando o assunto é a demarcação de mais uma área indígena em Roraima. É uma acusação mais para atender aos interesses políticos da família Jucá do que levar o acusado aos bancos dos réus. Porque o tiro pode sair pela culatra e traquinar os pés de Romero Jucá e sua turma.

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