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CONVOCAÇÃO CÍVICA - Márcio Accioly

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) pode ter dado o primeiro passo indispensável no esclarecimento que se espera para as eleições deste ano. Lançou uma cartilha com o objetivo de orientar o eleitor, tentando provocar reflexão a respeito do quadro político nacional. O problema no Brasil é que a chamada atividade democrática está cada vez mais dependente de recursos financeiros públicos.


A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) pode ter dado o primeiro passo indispensável no esclarecimento que se espera para as eleições deste ano. Lançou uma cartilha com o objetivo de orientar o eleitor, tentando provocar reflexão a respeito do quadro político nacional.

O problema no Brasil é que a chamada atividade democrática está cada vez mais dependente de recursos financeiros públicos, os quais, no executivo, compram consciências e amarram compromissos com milhões de beneficiados de falsos "programas sociais". É exercício descarado de perpetuação de currais.

Sem contar mandatos proporcionais (vereadores, deputados estaduais e federais), negociados abertamente na convocação de bocas-de-urna, pagos a peso de ouro e que impossibilitam a representação livre nos parlamentos.

Como o sistema capitalista é inegavelmente excludente, colocando à margem de qualquer participação direta na distribuição de riqueza cerca de dois terços do corpo social, temos vasto contingente da população a depender de favores e simpatia.

Na generalização de que "todo político é ladrão" (e na visível indiferença de largos setores das classes médias), aumenta o fosso que separa os eleitos da população, alimentando crise que mais dia menos dia irá explodir em irreprimível violência.

Fazer com que a grande massa da população tome consciência do esquema de corrupção existente, cujo principal foco de alimentação é a própria eleição, não é tarefa a ser cumprida em curto ou médio prazo.

Mas pode-se tentar a mobilização das classes médias, especialmente devido ao fato de que serão as mais prejudicadas se não for possível dar um basta a esse processo. O que a CNBB pretende, segundo palavras de seu presidente, dom Geraldo Majella Agnelo, é "despertar a consciência, retirando o povo da passividade".

Em outras palavras, cresce o movimento em torno da mobilização dos capazes de formar e influenciar opiniões, "no sentido de promover uma revisão (do voto), programando o futuro".

O posicionamento da CNBB vem se somar ao de algumas correntes que atuam na internet, defendendo a renovação do Congresso Nacional e das Assembléias Legislativas dos 26 Estados brasileiros, mais o Distrito Federal. A CNBB não prega o não voto nos que hoje detêm mandato eletivo, mas deixa claro seu apoio à proposição.

Porque está instituído ciclo vicioso no qual a maioria dos mandatários se perpetua através da distribuição de benesses e vantagens financeiras aos eleitores, com o único fito de alcançar o poder pelo poder. O cinismo exibido por essa maioria que alcança mandatos eletivos, gera sentimento de impotência e fragiliza as instituições.

Por outro lado, o Judiciário tem respondido de forma que deixa muito a desejar. Tem ajudado a criar clima de complacência que causa perplexidade. Nas CPIs que investigaram e investigam escândalos recentes no Congresso Nacional, a concessão de liminares e hábeas corpus preventivos mais tumultuou do que esclareceu.

É com base em tais aflições que a sociedade começa a se movimentar através de setores mais sensíveis. Existe forte disposição emocional com relação a possíveis desdobramentos políticos da atual crise, por conta de incontáveis questões sem resposta. Teme-se ruptura institucional, o avizinhamento do caos.

Por isso, a CNBB, a OAB e outros órgãos já começam a se mobilizar e oferecer espécie de roteiro e abrigo aos muito desamparados. É preciso que todos os que se sentem responsáveis participem. O que está em jogo é o destino do Brasil.

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