As condições que o casal Garotinho buscou negociar para a sua saída não aconteceram. Mas o fato é que o ex-governador não resolveu manter-se no páreo presidencial apenas por falta de alternativa. Ele arquitetou um plano que, na pior das hipóteses, dará ainda um bocado de dor de cabeça para o presidente Lula e para os governistas do PMDB.
O ex-governador do Rio Anthony Garotinho não teria optado pelo tudo ou nada se não tivesse um plano por trás disso. Até o final da semana, até a véspera do prazo final de desincompatibilização, ele e sua mulher, a governadora Rosinha Matheus, ainda debatiam o que deveriam fazer. Se Rosinha deixasse o governo do Rio para disputar algum outro cargo, abriria uma alternativa a Garotinho caso fracassasse a sua tentativa de candidatura à Presidência da República pelo PMDB.
A idéia da exigência da desincompatibilização está relacionada à possibilidade de os detentores de cargos no Poder Executivo usarem o poder que têm para influir no resultado, em seu favor ou em favor de parentes. Essa capacidade de influência estará relacionada à circunscrição em que o ocupante do cargo no Executivo tem poder. Por isso é que, com Rosinha no cargo, Garotinho pode disputar a Presidência. O cargo é nacional, e o poder de Rosinha é estadual. Todos os demais postos na disputa eleitoral, no entanto, são estaduais. Para que Garotinho pudesse disputar algum deles, Rosinha tinha de sair do governo.
Garotinho sabe que não será fácil a batalha que ainda tem pela frente com os caciques peemedebistas. Nenhum dos caciques do partido esteve ao lado dele. Ou eram aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, contrários à idéia da candidatura própria ou estavam com o governador do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto, seu adversário nas prévias que o PMDB realizou (que não tiverem valor oficial em conseqüência de decisão judicial).
A manutenção da verticalização complicou ainda mais a vida de Garotinho. Porque em vários desses estados esses caciques agora buscam fechar acordos locais com partidos que terão outros candidatos à Presidência, principalmente com o PSDB e com o PFL. Começam, assim, a preferir também que o PMDB não tenha Garotinho no páreo e não apóie ninguém oficialmente para ficar totalmente livre para fazer as alianças que quiser nos estados. Daí, o debate sobre a saída de Rosinha: se a tentativa de candidatura de Garotinho fracassasse, ele poderia ter uma saída eleitoral para outubro.
Rosinha ficou. As condições que o casal Garotinho buscou negociar para a sua saída não aconteceram. Mas o fato é que o ex-governador não resolveu manter-se no páreo presidencial apenas por falta de alternativa. Ele arquitetou um plano que, na pior das hipóteses, dará ainda um bocado de dor de cabeça para o presidente Lula e para os governistas do PMDB.
Esta semana, Garotinho desembarca em Brasília. Montará aqui o seu comitê de campanha. A idéia é, assim, nacionalizar a sua candidatura. Tirar dela a idéia de que ele é apenas um político do Rio de Janeiro. Daqui, Garotinho assistirá à última semana de inserções da propaganda eleitoral peemedebista no rádio e na TV, em que aparece maciçamente. Garotinho já encomendou uma pesquisa nacional para ouvir os eleitores a partir de sexta-feira, quando termina a propaganda do PMDB. Ele acha que pode ter passado o candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, em alguns estados. Assim, compensaria a desvantagem que ainda terá para ele em São Paulo, e os dois apareceriam praticamente empatados, apenas com uma ligeira vantagem para o tucano.
Com essa possível melhora eleitoral, Garotinho viajará aos estados, numa estratégia semelhante à que usou para vencer a prévia peemedebista. Irá em busca dos mesmos peemedebistas que votaram nele na prévia. Mesmo que eles agora não tenham votos na convenção. Espera fazer com que eles pressionem os convencionais, se os números das próximas pesquisas de fato demonstrarem que ele se torna uma opção concreta de voto. Garotinho tem dito a seus aliados que, em política, às vezes é preciso construir pontes mesmo que elas não venham a ser usadas. É o que ele faz agora com Alckmin. Nesse primeiro momento, a aproximação funciona como uma forma de pressão sobre os governistas do PMDB e sobre o presidente Lula. Num segundo momento, pode mesmo acabar se transformando numa aliança concreta.
O que Garotinho pretende é demonstrar que a sua candidatura abortada poderá ser um tiro pela culatra. Porque ele buscará denunciar as pressões e interferências. Se não vencer a convenção partidária, explicitará as interferências do governo para sair de vítima no processo. Criará uma situação que torne impossível a seus eleitores a opção por Lula. E, aí, pedirá a eles que votem em Alckmin. Para ser vice do tucano? Tolice. Garotinho sabe que não há chances disso se concretizar. Mas para ser um de seus principais cabos eleitorais e garantir uma influência determinante em seu eventual governo. Uma influência que, então, será apenas dele. Que pode transformá-lo, talvez, em ministro. E que ele usará para, então, tornar-se, no mínimo, mais um dos caciques regionais peemedebistas aos quais todos os governantes brasileiros acabam tendo de pedir a benção.