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O julgamento - ELIANE CANTANHÊDE

As reações são indignadas, às vezes de asco, mas já há também difusos sentimentos de compaixão. André Luiz, experiente promotor de São Paulo, faz uma interessante relação entre júri e eleição: é preciso dosar a pressão sobre o réu/adversário. Aperta e relaxa, bate e assopra, porque o risco de passar do limite é o réu virar vítima e conquistar a comiseração dos jurados (ou eleitores...).



BRASÍLIA - Com pressão alta e estresse, Antonio Palocci alegou falta de condições físicas e psicológicas para depor na PF sobre a violação do sigilo bancário do caseiro Francenildo.
Paulo Okamotto, presidente do Sebrae e compadre gastador de Lula, teve de se esconder humilhantemente no escritório para fugir da intimação de um escrivão de polícia.
Ângela Guadagnin, a deputada que enfrentou tudo e todos para defender seus pares petistas, até o ridículo e talvez o decoro, foi expulsa do Conselho de Ética (e reintrouzida no dia seguinte).
As TVs e as rádios, as capas dos jornais e as revistas expõem essas vísceras do governo e do PT. As reações são indignadas, às vezes de asco, mas já há também difusos sentimentos de compaixão.
André Luiz, experiente promotor de São Paulo, faz uma interessante relação entre júri e eleição: é preciso dosar a pressão sobre o réu/adversário. Aperta e relaxa, bate e assopra, porque o risco de passar do limite é o réu virar vítima e conquistar a comiseração dos jurados (ou eleitores...).
Lula e o governo produzem um "efeito vacina", o mesmo que Maluf conseguiu em décadas de campanha e de denúncias. Podiam falar e provar tudo contra ele, mas seus 30% de votos paulistas não se abalavam. Apesar de todas as diferenças do mundo, o eleitorado petista de fé incorpora o espírito do voto malufista: voto nele porque voto.
Só que 30% não garantem vitórias, muito menos numa bipolarização como essa de 2006. Daí a estratégia da vitimização, acusando golpismo e perseguição de uma elite cruel. É para atrair pena e solidariedade e segurar os neopetistas de 2002.
Há efetivamente o risco de o cerco tomar contornos de massacre -o que pode gerar pena e apoio. Mas os infortúnios do governo e do PT são pautados por fatos, e seus algozes são as polícias, os procuradores, as CPIs mistas. A oposição tira proveito, o que é seu direito. E a imprensa noticia, o que é seu dever. Cabe ao grande júri dar o veredicto.

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