DANÇA DA ELEFANTINHA - Angela diz que é discriminada
DANÇA DA ELEFANTINHA - Angela diz que é discriminada
A deputada voltou ao plenário, mas nem de longe lembrava a descontraída Ângela da semana passada. Estava séria e desconfortável. Com a voz embargada, subiu à tribuna e comentou o episódio. Atribuiu a repercussão negativa da sua atitude - que apelidada de dança da pizza se tornou o símbolo da impunidade de deputados acusados de envolvimento no mensalão - à perseguição e preconceito da imprensa. "Estou sendo perseguida e massacrada porque sou mulher, gorda, não pinto os cabelos e, principalmente, porque sou petista", disse.
"Estou sendo perseguida porque sou mulher, gorda, não pinto os cabelos e petista" Angela Guadagnin, deputado federal (PT-SP)
A deputada Angela Guadagnin (PT-SP) terá que dar explicações formais sobre a maneira como se portou em plenário na madrugada da última quinta-feira para comemorar a absolvição do deputado João Magno (PT-MG), acusado de receber dinheiro do esquema do mensalão. A Corregedoria da Câmara dos Deputados vai notificar a parlamentar por ter se excedido e dançado depois de saber que o correligionário havia sido beneficiado pela falta de quórum, o que acabou por livrá-lo da cassação. Guadagnin terá o prazo de cinco sessões para prestar esclarecimentos sobre a sua postura. Ela poderá sofrer uma suspensão ou até mesmo ser submetida ao Conselho de Ética da Casa, órgão que julga a quebra de decoro parlamentar e do qual Ângela é titular.
A deputada voltou ao plenário, mas nem de longe lembrava a descontraída Ângela da semana passada. Estava séria e desconfortável. Com a voz embargada, subiu à tribuna e comentou o episódio. Atribuiu a repercussão negativa da sua atitude - que apelidada de dança da pizza se tornou o símbolo da impunidade de deputados acusados de envolvimento no mensalão - à perseguição e preconceito da imprensa. "Estou sendo perseguida e massacrada porque sou mulher, gorda, não pinto os cabelos e, principalmente, porque sou petista", disse.
Ela usou como parâmetro para se defender outros episódios tão ou mais descabidos que o seu em plenário. "Vocês são testemunhas que essa Casa já viu deputado supapando deputado, já viu deputado rasgando a Constituição, usando palavras de baixo calão e nunca foram investigados ou punidos por essas atitudes", comparou.
Angela criticou a imprensa por considerá-la "hipócrita e preconceituosa" e por difundir a "ditadura de uma verdade só", em que, segundo acredita, há uma busca "totalitária" por resultados e pensamentos produzidos pela mídia. E se manteve firme no papel de escudeira dos deputados envolvidos no escândalo do mensalão. "A imprensa determinou que há uma lista de deputados mensaleiros e que merecem ser punidos com a pena máxima. Quem não tiver um pensamento uniforme será massacrado como eu estou sendo", avalia. Com exceção do processo do deputado Pedro Corrêa (PP-PE), Angela votou unanimemente pela absolvição dos deputados submetidos ao Conselho de Ética.
João Magno saiu em sua defesa. Elogiou a conduta da deputada e classificou como corajosa sua atuação. "Meus parabéns, é o que posso dizer. Você merece os meus mais sinceros parabéns", insistiu.
Ao contrário de João Magno, os colegas do Conselho de Ética desaprovaram o ato de Angela. E ontem alguns deles chegaram a propor o afastamento da deputada do Conselho. "Até por uma questão de coerência com o regimento, o mais adequado seria que a senhora, com todo o respeito, aguardasse o desfecho do processo na Corregedoria fora do Conselho", sugeriu o deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP).
Com argumentos menos jurídicos e mais pragmáticos, o deputado Júlio Delgado (PPS-MG) insistiu na proposta: "Apoio o seu afastamento porque não acho justo ter que ouvir o que ouvi neste final de semana em função de sua dança. Alguém deixou em minha porta um gravador posicionado com o seguinte refrão: se ela dança, eu danço; se ela dança, eu danço.", reproduziu. O rap está nas paradas de sucesso e é cantado pelo MC Leozinho. Ângela avisou que não sai. Ela é relatora do processo mais atrasado do Conselho, o de José Janene (PP-PR). Ontem à tarde a sessão convocada para ouvir as testemunhas do deputado foi cancelada por falta de quórum.