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Tiraram a Rádio do ar!... - Laucides Oliveira

Tudo na surdina, na socapa, sem nenhum aviso prévio. Calaram uma voz que fala às famílias rio-branquenses - especialmente as do Interior, com o inestimável "O Mensageiro do Ar" - e à sociedade de Roraima, há quarenta e nove anos, ligando as lonjuras, levando uma palavra amiga, a mensagem tranqüilizadora, a música da saudade, a alegria do forró, um serviço de utilidade pública, aonde as outras vozes não chegam: aos moradores dos garimpos, das fazendas, das malocas, nas serranias, nos lavrados, no silêncio das matas e dos rios...


Foi na quinta-feira, às sete horas da noite.  Os fiscais do Ministério das Comunicações chegaram a Radiodifusora Roraima e a  interditaram, interrompendo a sua programação, tirando a emissora do ar.

Tudo na surdina, na socapa, sem nenhum aviso prévio. Calaram uma voz que fala às famílias rio-branquenses - especialmente as do Interior, com o inestimável "O Mensageiro do Ar" - e à sociedade de Roraima, há quarenta e nove anos, ligando as lonjuras, levando uma palavra amiga, a mensagem tranqüilizadora, a música da saudade, a alegria do forró, um serviço de utilidade pública, aonde as outras vozes não chegam: aos moradores dos garimpos, das fazendas, das malocas, nas serranias, nos lavrados, no silêncio das matas e dos rios...

Verdade que a Radiodifusora Roraima está funcionando sem a outorga, uma licença justificativa para a  violência extremada, praticada por quem exercita o Poder na intriga política de ocasião.

Em julho de 1977, a Radiodifusora Roraima foi encampada pela Radiobrás, sem que nada lhe custasse, dando lugar à Radio Nacional de Boa Vista. Uma conquista à época, integrando Roraima ao Brasil. Verdade que investiu nas suas instalações, capacidade transmissora e pessoal. Mas nem tudo foram flores: A Radiobrás encolheu, atingindo a emissora de Boa Vista; negociações foram feitas visando a devolver a Rádio ao governo do então já Estado.  Só que, para tal, a empresa cobrava - agora - dois milhões de reais. Roraima não pagou e a transferência foi postergada, apesar de que o Governo do Estado assumiu e passou a operar a emissora, que voltou a chamar-se Radiodifusora Roraima. Sem o pagamento, a Rádio continua em nome da Radiobrás, e sem a transferência, não há outorga.  

E como o momento é político...

Calaram a Rádio Roraima!  Uma voz do povo e que fala ao povo.

Escrevo esta crônica ainda sob o calor da indignação, sabendo que uma ação judicial já foi instruída e é possível que um Mandado de Segurança possa já ter sido expedido, restabelecendo as funções da Rádio, quando esta crônica esteja sendo lida. Tomara que assim seja!

O Governador do Estado já disse que compra a Rádio. Isso melhora a perspectiva.

É oportuno lembrar que a Rádiodifusora Roraima foi inaugurada por um Presidente da República - Juscelino Kubitscheck - em janeiro de 1957; descreveu o pouso do Homem na Lua para um esquecido e isolado Território, em 1969; transmitiu as emoções de Copas do Mundo diversas; supriu a cidade de um bom cinema - no momento em que este, aqui, não existia -; desenvolveu a formação cultural da nossa juventude; e é dona de muitos outros méritos.

Cabe ao Estado recuperar a emissora, readquirindo-a, implementando-a e até mesmo podando-lhe possíveis excessos, mas devolvendo-a a seu legítimo dono, o povo.

Cabe aos oportunistas políticos de plantão respeitar o patrimônio do povo!

*Jornalista

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