- 29 de outubro de 2024
E um jornal amazonense estampou a manchete: ATAQUE AO PALÁCIO DA JUSTIÇA. Logo abaixo da chamada sensacionalista, alguns detalhes para cativar o leitor e lá na seção policial, a reportagem: "Na tarde de ontem, Raimundo Soares da Silva, comerciante, 42 anos, driblou a vigilância e invadiu o terceiro andar do Palácio da Justiça do Estado do Amazonas. Carregando às costas uma mochila contendo oito bombas artesanais conhecidas como 'coquetéis molotov', Raimundo conseguiu acender três daqueles artefatos e atirá-los contra os arquivos da repartição.
Ao ser dominado e levado para interrogatório, o comerciante, em visível estado de torpor, dizia que seu ato foi comandado por Jesus Cristo. Sem dar atenção às perguntas formuladas pelas autoridades policiais, afirmava repetidamente,
- Recebi ordens superiores...: ordens divinas! Jesus Cristo comandou meus passos e ordenou que eu incendiasse este antro de corrupção que chamam erradamente de Tribunal de Justiça... Justiça só existe uma: a de Deus! O Filho de Deus me usou para desmascarar estes juízes e desembargadores que usam seus cargos simplesmente para se locupletar e prejudicar o homem comum... Peço perdão ao meu bom Deus por ter falhado nesta missão! Não espero nada da justiça terrena. Afirmo a todos vocês que só a justiça divina é infalível!
Ao longo das investigações, descobriu-se que os arquivos do Tribunal de Justiça do Estado do Amazonas, instalado no prédio alvo do ataque, abrigam três processos contra o comerciante terrorista. Nestes processos em fase de julgamento, Raimundo é indiciado por apropriação indébita, corrupção ativa, formação de quadrilha, falsidade ideológica e assédio sexual."
Adilson Dantas, meu amigo, espirituoso juiz do trabalho na capital amazonense, me falou que se fosse um dos policiais encarregados do caso estaria perdido: num primeiro impulso indiciaria Jesus Cristo como mandante, por incitação ao crime; depois de conhecer o histórico policial de Raimundo da Silva, acha que o correto seria indiciar o filho de Deus como cúmplice na tentativa de destruir documentos oficiais.
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