- 29 de outubro de 2024
Lilian Tahan e Fernanda Odilla
Da equipe do Correio
Edilson Rodrigues/CB/24.3.06 |
Projeto de Esporte e Lazer em Sobradinho deu R$ 117,8 mil à Cata-Ventos para aulas de ginástica: turma usa colchonetes finos e garrafas de refrigerante com areia como pesos |
Verbas confinadas no Distrito Federal Com a ingenuidade comum a qualquer criança, Gabriel, de 10 anos, revela a hora que gosta da escola: "A gente tá escrevendo e eles chamam a gente para aprender kung fu". Gabriel é aluno de uma das escolas públicas de Sobradinho, onde o programa Segundo Tempo, do Ministério do Esporte, é oferecido em parceria com a Federação Brasiliense de Kung Fu (Febrak). A entidade recebeu metade dos R$ 4 milhões empenhados para dar lanche, comprar uniforme, pagar instrutores e ensinar modalidades esportivas. Mas tudo deveria ser feito no horário em que a criança está fora da sala de aula, no segundo tempo da jornada dos beneficiados pelo projeto. Em 2005, a Febrak foi a quarta entidade que mais recebeu dinheiro do Ministério do Esporte em todo o país e a campeã em recursos do Distrito Federal. Neste mesmo ano, o DF se destacou como a segunda unidade que mais atendeu crianças no Brasil inteiro, em números absolutos - 121.612 -, perdendo apenas para a Bahia. O DF é, até março deste ano, o maior receptor de verbas. Em 2006, o DF recebeu 97,1% dos recursos do programa. Dos R$ 3,64 milhões empenhados para o Segundo Tempo, o Rio Grande do Sul ficou com R$ 104 mil. O restante foi para sete entidades do DF. Vale ressaltar que, até agora, apenas R$ 120 mil desse montante foi pago, de acordo com os números do Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi) do Governo Federal. A Febrak, por sua vez, já recebeu R$ 2 milhões, empenhados no ano passado. De acordo com o coordenador do Segundo Tempo da Febrak, Eduardo Tomaz, nem todo o dinheiro foi gasto. Logomarcas Ao assistir a uma das atividades da federação em Sobradinho, de fato, é possível entender porque não foi gasto todo o recurso liberado. O lanche é bancado pelas escolas e o uniforme é a camiseta com as logomarcas do governo federal, do ministério e o nome do presidente da Febrak. Os monitores ganham R$ 260 por mês e o material é fabricado por presidiários do Pintando a Liberdade, projeto governamental. Tem sido assim desde o ano passado, quando a Febrak começou a implantar o programa nas escolas de Sobradinho. Funcionários das escolas, como a Classe 10 e a Classe 1, contam que a atividade - que deveria ser oferecida três vezes por semana, em horários entre as 14h e as 18h - se limita a uma hora por semana, sempre no turno em que o aluno estuda. E os pais podem levar o filho na academia de João Dias, presidente da Febrak, no período oposto ao das aulas. "Funcionamos como olheiros. As crianças que levam jeito para kung fu vão treinar na academia. Lá, ganham uniforme importado e acompanhamento", explica Eduardo. Alívio Apesar de não se cumprir o cronograma de três atividades por semana no período oposto ao que a criança esuda, a direção das escolas adora o Segundo Tempo. O programa acaba substituindo aulas de educação física e aliviando professores que, além do conteúdo de matemática, português e ciências, precisam dar ginástica às crianças. A verba por criança atendida não é padronizada. Na última segunda-feira, durante o programa de rádio Café com o presidente, Agnelo Queiroz revelou que a média é de R$ 11 mensais por criança. No caso da Febrak, o valor é bem maior. Inicialmente, o programa foi pensado para oferecer R$ 33,3 para cada um dos 10 mil meninos e meninas atendidos. Já a Ação Social do Planalto, também do DF, que recebeu R$ 2,7 milhões em 2004 e ainda completou com uma contrapartida de R$ 456,9 mil do Governo do Distrito Federal, cada criança custava R$ 26,30 em média por mês. Lula elogiou o Segundo Tempo como uma alternativa às prisões, depois que Agnelo lembrou que, com o programa, a criança estuda em um turno e no outro faz atividades prazerosas. "Não está na rua nem sujeita aos perigos da rua", afirmou Agnelo. Na sexta-feira, o Correio procurou o ministério para esclarecer os problemas encontrados pela reportagem. A assessoria não retornou os pedidos nem respondeu o e-mail, enviado às 12h43. E informou que um problema técnico no sistema de computadores poderia ter impossibilitado o retorno. (FO) |