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Caseiro passa de vítima a investigado pela PF

Vítima de violação de sigilo bancário, o caseiro Francenildo dos Santos Costa prestou depoimento ontem na Polícia Federal, em Brasília, na condição de pessoa investigada sob suspeita de prática de lavagem de dinheiro. Essa linha de investigação foi aberta a pedido do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), órgão subordinado ao Ministério da Fazenda, que na segunda-feira encaminhou à PF relatório no qual aponta movimentações atípicas na conta do caseiro na Caixa Econômica Federal.


ANDRÉA MICHAEL
Folha de S. Paulo

Vítima de violação de sigilo bancário, o caseiro Francenildo dos Santos Costa prestou depoimento ontem na Polícia Federal, em Brasília, na condição de pessoa investigada sob suspeita de prática de lavagem de dinheiro.
Essa linha de investigação foi aberta a pedido do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), órgão subordinado ao Ministério da Fazenda, que na segunda-feira encaminhou à PF relatório no qual aponta movimentações atípicas na conta do caseiro na Caixa Econômica Federal.
O caseiro recebe R$ 700 mensais de salário. Entre janeiro e março deste ano, recebeu depósitos que somam cerca de R$ 25 mil. O caseiro sustenta que o dinheiro foi repassado por seu suposto pai biológico, o empresário Eurípedes Soares da Silva, que tem uma empresa de ônibus em Teresina.
"Talvez possa ter procedência [o pedido do Coaf], porque a mãe dele [caseiro] é lavadeira. Pode ser que sobrou um dinheiro na calça e ela tenha lavado esse dinheiro", protestou Wlício Chaveiro, advogado de Francenildo, logo após seu depoimento à PF. A investigação sobre o dinheiro interessa ao governo, que tenta desqualificá-lo levantando suspeitas de que ele tinha recebido auxílio financeiro para atingir Antonio Palocci.
O pedido de abertura da investigação foi assinado pelo presidente do Coaf, Antonio Gustavo Rodrigues, nomeado por Palocci. O documento foi produzido pelo órgão em tempo recorde: a CEF postou no Sisbacen o informe sobre os supostos problemas na conta do caseiro às 19h10 de sexta. Na segunda, o Coaf analisou as informações, viu indícios de irregularidades e fez o relatório.
Além de rápida, a decisão do Coaf é muito rara: em 2004, as instituições financeiras do país fizeram 85.152 comunicações de supostas práticas de crimes, mas só 453 casos (0,5%) foram informados pelo Coaf às autoridades.

Inquérito
Além de investigar o caseiro, a PF apura no inquérito a violação do sigilo bancário, ocorrida dentro da Caixa. O caseiro falou à PF sobre o momento em que, ao negociar seu ingresso no programa de proteção mantido pelo órgão, na noite de quinta passada, ele apresentou, entre outros documentos, o cartão de sua conta bancária na Caixa. O sigilo do caseiro teria sido violado às 20h58 da quinta, quando estava na PF.
Anteontem, a PF pediu à Justiça a quebra dos sigilos bancário e telefônico de Francenildo, bem como autorização para que peritos criminais acessem o sistema da Caixa em busca de dados sobre os responsáveis pelo vazamento.
No depoimento, o caseiro manteve a versão de que os R$ 25 mil foram depositados pelo suposto pai biológico e nada têm a ver com as revelações que ele fez à CPI dos Bingos. Em suas declarações, Francenildo afirma ter presenciado a ida de Palocci à "casa do lobby", em Brasília, alugada por amigos do ministro.
Na saída, ele mandou um "recado" ao responsável pela violação de seu sigilo: "Queria que ele investigasse meu sigilo eleitoral, para ver em quem um simples caseiro votou. Vai ver se foi no simples operário que está lá em cima". Questionado se votou em Lula, assentiu com a cabeça e disse que não repetiria o voto. "Olha o troco que estou recebendo hoje".
Ontem a PF conseguiu intimar o presidente da Caixa, Jorge Mattoso, para depor às 14h30, mas quem compareceu à PF foram os advogados da Caixa. Disseram que todas as informações solicitadas foram encaminhadas à PF.
Segundo o senador Romeu Tuma (PFL-SP), corregedor do Senado, os advogados disseram que Mattoso não teve tempo de se preparar para o depoimento. Entregaram à PF documentos da sindicância do banco sobre o caso.
A CPI dos Bingos suspeita que o caseiro tenha sido vítima de duas violações de sigilo desde que decidiu testemunhar contra o ministro Antonio Palocci. Antes de ter o sigilo bancário quebrado nas dependências da Caixa, o caseiro teria tido o sigilo fiscal quebrado pela Receita Federal, órgão que, como a estatal, é subordinado ao Ministério da Fazenda. A Receita tem condições de monitorar movimentações bancárias dos contribuintes a partir de informações repassadas pelos bancos com base no recolhimento da CPMF.


Colaboraram RUBENS VALENTE e MARTA SALOMON, da Sucursal de Brasília

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