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EDITORIAL - A dor da gente

Só para se ter uma idéia, em Roraima, estado dos menores da federação, há registro de queixas e mais queixas de exploração sexual praticados por pessoas acima de qualquer suspeita. Um deputado estadual, um renomado magistrado e um prestigiado advogado têm processos de abuso e exploração sexual de menores instaurados nas Delegacias de Polícia locais. Tais procedimentos correm, naturalmente, sob sigilo, por se tratar de autoridades.


"Lutemos contra essa cruel exploração! Vamos denunciar! Vamos cobrar que exploradores sejam punidos e que nossas crianças tenham direito à infância, nossas adolescentes à esperança e nossas mulheres sejam respeitadas e não vítimas da prostituição."

Com essas enfáticas palavras, o deputado Pastor Frankembergen (PTB/RR) encerrou pronunciamento na Câmara Federal semana passada, em protesto à prostituição infantil, exploração e abusos sexuais praticados em terras tupiniquins.

Impressionante como discursos inflamados desse quilate parecem passar despercebidos aos ouvidos de quem deveria tomar providências contra os abusos que se cometem sob o manto da impunidade. Nem sempre na calada da noite.

Frankembergen se indignava contra o turismo sexual, onde homens endinheirados do Primeiro-Mundo viajam horas, cruzam oceanos e aportam em terras brasileiras, em grupos, em busca de mulher fácil, do sexo abundante, dos "prazeres da carne".

O que acontece longe das praias ensolaradas do litoral, no entanto, é algo tão dolorido quanto. Cruedelíssimo até. Só para se ter uma idéia, em Roraima, estado dos menores da federação, há registro de queixas e mais queixas de exploração sexual praticados por pessoas acima de qualquer suspeita.

Um deputado estadual, um renomado magistrado e um prestigiado advogado têm processos de abuso e exploração sexual de menores instaurados nas Delegacias de Polícia locais. Tais procedimentos correm, naturalmente, sob sigilo, por se tratar de autoridades.

Talvez por isso mesmo - por se tratar de autoridades - não se tenha notícias de adoção de medidas mais drásticas. Pelo contrário, tais acusados permanecem sob o beneplácito do anonimato. De repente deixam Roraima e como ninguém publicou nada, podem cometer os mesmos crimes em outros lugares.

Este Fontebrasil não é a favor da exposição gratuita de nomes. Mas não podemos nos furtar de cobrar de quem de direito uma ação mais enérgica no sentido de coibir tais desvarios.

Há flagrantes instaurados, depoimentos prestados pelas vítimas e testemunhas. Há fatos que colaboram para que a Justiça se faça presente, assim como alerta para que haja uma efetiva atuação do Poder Público contra a mutilação de sonhos e esperanças de menores de idade, vítimas em potencial.

Enquanto crianças e adolescentes são jogadas na prostituição, parlamentares engravatados discutem alianças políticas em busca da maior fatia nesse bolo indigesto, o governo de uma nota só diz que não há verbas para políticas de inclusão social porque precisa pagar os juros da dívida e o Judiciário, feito zagueiro ruim, espana para qualquer lado a fim de não deixar que o Executivo seja arranhado.  

Ora, chega de discursos! É hora de partir para a ação. Onde estão as ONGs constituídas para agir diante de tais excrescências? Onde estão as instituições sérias que permitem atitudes espúrias de tamanha vileza? Que dizer da atuação da OAB, com sua Comissão de Direitos Humanos, que não tem sido tão presente quanto poderia ser?

Que tal a Igreja Católica esquecer um pouco a co-administração de terras indígenas e ativar a Pastoral do Menor na luta pelos excluídos - vítimas de crimes sexuais? As igrejas evangélicas também não podem passar ao largo. A cura da alma deve começar pelo resgate da dignidade.

Ação. Essa é a palavra que fará a diferença nesse latifúndio. Buscar descobrir os fatos em seu nascedouro - portas de delegacias - seria uma boa medida. Afinal, como diria Chico Buarque nos anos 70, "a dor da gente não sai no jornal"!

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