- 01 de novembro de 2024
Paloma Oliveto e André Carravilla
Da equipe do Correio
José Varella/CB/9.5.04 |
Recuperação: Lei proíbe a prisão de menores, mas prevê a internação de delinqüentes por até três anos em estabelecimentos como Febem e Caje |
Iano Andrade/CB/17.1.06 |
Carlos Velloso: os jovens de hoje já têm consciência de seus atos |
A redução da maioridade resolve a violência? "No sistema penitenciário, o jovem que ainda pode ser recuperado iria freqüentar uma escola do crime, podendo se filiar a facções criminosas. A violência seria maior" Dora Cavalcanti, membro do Instituto de Defesa do Direito de Defesa "Um rapaz dessa idade que comete crimes é muito mais esclarecido que os jovens de 50 anos atrás. E acaba se acobertando pela inimputabilidade" Carlos Velloso, ministro aposentado do STF |
Proposta muda condições de internação Na Câmara dos Deputados, 15 projetos sobre maioridade penal foram apresentados por parlamentares. O mais polêmico é do deputado Vicente Cascione (PTB-SP), relator da comissão especial que examina mudanças no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), lei promulgada em 1990. Advogado criminalista e professor de direito penal há quase quatro décadas, Cascione argumenta que a discussão sobre redução da maioridade penal é inócua porque a imputabilidade de menores de 18 anos é garantida na Constituição por uma cláusula pétrea, artigo que não pode ser alterado, a não ser no caso da realização de uma nova Assembléia Constituinte. Embora uma proposta de emenda constitucional do deputado Luis Carlos Santos (PFL-SP), que propõe a convocação de uma assembléia de revisão constitucional a partir de 1º de janeiro do ano que vem, tenha boas chances de ser aprovada, Cascione aposta em outra solução. Ele é autor de um projeto no qual defende alterações no ECA, para permitir que o tempo de internação em unidades de cumprimento de medidas socioeducativas, seja estendido para até 30 anos. Fora de contexto "Criamos uma idéia de que o ECA é um instrumento imutável, mas ele foi elaborado para a realidade do primeiro mundo. Em relação ao cumprimento das medidas socioeducativas, o estatuto é medíocre", acredita Cascione. A primeira crítica do parlamentar é em relação ao tempo máximo de internação, estabelecido em três anos. "Quando se trata de alta periculosidade, não se pode estabelecer um período", argumenta. Para ele, o ideal é que o adolescente infrator seja avaliado por uma equipe multidisciplinar, formada por psiquiatra, psicólogo e assistente social, que irá definir se o menor está pronto para voltar ao convívio social. Pelo projeto do deputado, a cada dois anos, ou sempre que o juiz determinar, o adolescente deverá ser submetido à avaliação. Cascione acredita que, dessa forma, a violência será combatida e a possibilidade de recuperação aumentará. "Hoje, adultos usam jovens no crime porque sabem que eles vão ficar no máximo três anos internados, isso quando não conseguem fugir. Ao saber que poderá cumprir a sentença por até 30 anos, o jovem vai se sentir desestimulado a praticar crimes", acredita. Outro ponto do projeto estabelece uma espécie de lei de responsabilidade social, a exemplo do que ocorre com a lei de responsabilidade fiscal. "O governador poderá perder o mandato", explica o deputado, sobre a necessidade de adequação das unidades de internação, bastante criticadas por não conseguirem recuperar os menores, além de serem comparadas a presídios comuns. (PO e AC) |
Opinião "Não temos condições de abrigar sequer os maiores de idade, que já superlotam as cadeias. Que dirá se colocarem os jovens" Marco Aurélio de Mello, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) "De que forma esses jovens devem ser punidos? Dar um conselho e pedir para não fazer mais?" Carlos Velloso, ministro aposentado do STF "Se a contenção do crime e da violência não ocorreu com a prisão de maiores de 18, não vai ser diferente com os menores" George Felipe Dantas, coordenador do Núcleo de Estudos em Defesa, Segurança e Ordem Pública do DF "O Brasil ainda não está amadurecido para reduzir a maioridade penal. É uma questão que exige muito debate" Mauricio Corrêa, ministro aposentado do STF "Três anos de internação não é pouco tempo na vida de ninguém, muito menos de um adolescente" Dora Cavalcanti, criminalista e membro do Instituto de Defesa do Direito de Defesa "Uma pessoa menor que seja presa também arca com as conseqüências, que estão previstas pelo ECA" Vicente Cernicchiaro, ministro aposentado do Superior Tribunal de Justiça e presidente da comissão que realizou a revisão do Código Penal, em 1998 |