- 01 de novembro de 2024
O jornal Correio Braziliense publicou na semana passada uma história envolvendo um motorista chamado Roberto Jefferson Marques, que afirmava numa gravação ter sacado 50.000 reais de uma agência do Banco Rural, em Brasília, a pedido do senador Romero Jucá (PMDB-RR), para quem trabalha há mais de dez anos. Como Jucá até então não tinha aparecido na lista de beneficiários do valerioduto, tudo levava a crer que se tratava de mais um caso de parlamentar atolado no esquema, num momento em que aumentavam as suspeitas sobre o envolvimento de outros políticos com o mensalão. Na fita, o motorista afirmou ter ido ao banco em junho de 2004 e, depois de dizer seu nome a um funcionário, retirado um pacote amarelo contendo dinheiro. Disse ainda ter assinado um recibo, sem precisar colocar o número de sua identidade.
O nome do assessor de Jucá é muito parecido com o do assessor do deputado cassado por corrupção José Dirceu. Essa coincidência ofereceu oportunidade para que se tentasse mais uma vez jogar uma cortina de fumaça sobre um feio episódio que os envolve. Bob Marques, o de Dirceu, disse que o surgimento do Roberto Marques de Jucá seria prova suficiente para processar VEJA por tê-lo incluído no esquema de repasse de dinheiro do publicitário Marcos Valério. Há mais de sete meses, quando VEJA revelou que o nome de Bob Marques constava da lista de autorizados para sacar o dinheiro do mensalão, o assessor de Dirceu já havia dito que tomaria as "medidas judiciais cabíveis". Não o fez. Dirceu anunciou, por seu turno, que no recurso de sua cassação, que prepara para ingressar no Supremo Tribunal Federal (STF), abordaria a questão do homônimo, uma vez que o caso Bob Marques constou do relatório do Conselho de Ética que pediu a cassação de seu mandato.
Celso Junior/AE |
O senador Romero Jucá: apenas um homônimo, nada mais que isso |
Com ou sem um Roberto Marques de Roraima, os fatos que interessam são os seguintes:
Em 15 de junho de 2004, Geiza Dias, funcionária do departamento financeiro da SMPB, agência de Marcos Valério, autorizou Roberto Marques a sacar o cheque número 414.270, de 50.000 reais, na agência do Banco Rural na Avenida Paulista, em São Paulo. Portanto, a mais de 1.000 quilômetros do local onde o motorista de Jucá disse ter retirado o dinheiro.
O que aguardava Bob Marques na agência do Rural em São Paulo era um cheque, e não um pacote amarelo com dinheiro.
O cheque nunca chegou a ser retirado por Bob Marques, pois, no dia seguinte à autorização de saque, seu nome foi curiosamente substituído pelo de Luiz C. Mazano, funcionário da corretora Bonus-Banval, investigada pela CPI por suspeita de ter atuado na distribuição do mensalão. Quem retirou, portanto, o cheque 414 270 na agência do Banco Rural, em São Paulo, foi um funcionário de uma corretora paulista, que nada tem a ver com o motorista de um senador de Roraima.
Por fim, o próprio Marcos Valério admitiu em depoimento que a troca dos nomes ocorreu, como sempre acontecia, a pedido de Delúbio Soares, que não queria correr o risco, assim como Dirceu, de ver o assessor do ex-ministro e deputado cassado por corrupção ser pego com a mão na massa.
Com esse episódio, Dirceu mais uma vez falhou na tentativa de reinventar sua própria história. O Bob Marques descoberto por VEJA é mesmo o Bob Marques do ex-deputado.