- 01 de novembro de 2024
Quando o senador Romero Jucá Filho (PMDB-RR) subiu à tribuna de sua Casa Congressual, na tarde da última segunda-feira (buscando explicar o inexplicável), os jornalistas que se acotovelavam no setor destinado aos profissionais de imprensa pareciam estar cumprindo tão somente mais uma insossa tarefa.
Na quentíssima tarde do Planalto Central, sua excelência proferiu lamentável e desarticulado discurso, tentando sair do foco de denúncias que jamais se esclarecem, pois resguardadas em desmoralizante ambiente de compadrio, corporativismo e impunidade, no qual nenhuma instituição é capaz de sobreviver.
Foi exercício de retórica desqualificada e inútil, ancorada unicamente no cinismo e no desrespeito, onde a mentira, tornada marca registrada do comportamento do parlamentar, mistura lances de pouca vergonha e surrealismo.
O elaborado discurso de Jucá Filho fala dos assassinatos do jornalista Alencar e do advogado Paulo Coelho, sugerindo abertamente o envolvimento do governador Ottomar de Sousa Pinto (PSDB). É sua única defesa: confundir para reinar.
Mas não fala de roubos escancarados que se estendem através de denúncias e documentos, chegando até às colocações do engenheiro eletricista Cláudio Roberto Firmino de Oliveira, o qual prestou depoimento no Ministério Público Federal (MPF) e apontou desvio de material do terminal de ônibus do bairro Caimbé, em Boa Vista.
Entre tais desvios, segundo Cláudio Roberto, contabilizam-se seis centrais de ar condicionado, além de portas e material de construção e acabamento, levados criminosamente para a produtora de vídeo que funciona na TV Caburaí, pertencente ao ilustre senador. A prefeita de Boa Vista, Teresa Jucá, é casada com o senador.
Logo no início do discurso, Filho afirmou que o funcionário da Prefeitura de Boa Vista, Roberto Marques, o "Xuxa", acusado de ter retirado 50 mil reais na agência do Banco Rural em Brasília (dinheiro oriundo do esquema do publicitário Marcos Valério), "não viaja e não sai de Boa Vista há cerca de cinco anos".
E disse que seria muito fácil constatar tal confinamento voluntário à capital de Roraima, porque "de Boa Vista só se sai de avião". Como se não existisse a rodovia BR-174 (ligando Manaus a Venezuela), nem empresas de ônibus cumprindo diversos horários desde a Rodoviária Internacional de Boa Vista.
Na mesma segunda-feira do mentiroso discurso (no vôo da Varig que chegou a Brasília procedente de Boa Vista), Xuxa desembarcou em companhia de um dos principais assessores do senador, talvez para "se aconselhar".
A segunda mentira em cima do laço, sem tempo sequer para respirar, foi quando garantiu que a gravação publicada no Correio Braziliense nada mais era do que "uma declaração lida em voz alta", entregue a Xuxa pelo secretário-adjunto da Casa Civil do Governo de Roraima, Netão.
Acontece que a gravação, sob a guarda da Polícia Federal, traz diálogo informal mantido entre duas pessoas (uma delas, o Xuxa) que transmitem a impressão de se conhecer muito bem.
Inacreditável é constatar que o presidente do Conselho de Ética do Senado, João Alberto (PMDB-MA), não designa relator para nenhum dos quatro pedidos de cassação do mandato de Jucá Filho, empurrando tudo solenemente com a barriga.
Quando saiu do governo do Maranhão, depois de cumprir dez meses por conta do afastamento do titular, Epitácio Cafeteira (que disputou a vaga senatorial), João Alberto declarou que sua gestão deveria ser classificada de 90% honesta! (continua)
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