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EDITORIAL - Uma nova utopia

O desvario sexual é algo ofensivo. Prejudica principalmente a formação do caráter das crianças e dos adolescentes, que precisam de sonhos. Chega da falta de pudor demonstrada no dia-a-dia dos políticos. Basta de mensalões, malas voando de lá pra cá recheadas de dinheiro, dólares na cueca, jeitinho brasileiro para se levar vantagem em tudo...


Na década de 1980, logo após a posse de José Sarney na Presidência, o país viveu um período de liberdades exacerbadas. Verdadeira ressaca da repressão. Não se tinha a real dimensão do bem e do mal em termos de liberdades individuais. Fato mais que normal, a se levar em conta a ferrenha censura que insidiosamente tomou conta das mentes ao longo de 24 anos.

Durante a vigência da ditadura, fatos inusitados deixavam qualquer um baratinado. Exemplo: nessa época o cinema brasileiro enveredou por um segmento não tão digno, mas que enchia casas de exibição país afora. A pornochanchada era o carro-chefe. Interessante que alguns censores, de tão ridículos, chegavam a ser cômicos. Cenas de sexo explícito eram permitidas, desde que a atriz pornô não mostrasse ao mesmo tempo os dois seios. Um podia.

Logo depois do porre de liberdade, que teve como marco a instalação do Poder Civil iniciado pelo fenômeno das "Diretas Já", em 1984, mesmo antes da promulgação da Constituição Cidadã (1988), era normal ver-se na TV aberta transmissões de Carnaval eivadas de cenas picantes, principalmente aquelas geradas a partir dos bailes cariocas. 

Logo em seguida, parece que a vida volta ao normal e a sociedade toma um banho de civilidade, podando ações consideradas espúrias, dando à programação da TV um toque salutar. A própria mídia encarregou-se de expurgar as atitudes pernósticas que afrontavam a família brasileira.

Mas esse rasgo de juízo parece que não passou de lampejo. Hoje, é verdade, as cenas picantes produzidas nos bailes carnavalescos já não são mais vistas na TV. Tornaram-se fora de moda. Mas fizeram escola. As novelas, especialmente as da TV Globo, em nada deixam a desejar àqueles momentos de total luxúria e devassidão.

Enquanto os bailes carnavalescos eram levados ao ar em horários não-recomendáveis para menores - geralmente depois da meia-noite -, hoje, apimentadas, as cenas novelescas estão a invadir a casa dos brasileiros de qualquer idade a qualquer hora. Não importa quem esteja ao sofá.

Dia desses, na novela das sete (Bang-Bang), o mocinho chegou todo fogoso, pegou a mocinha selvagemente, arrancou-lhe as roupas, ela também demonstrando estar louca de paixão, de tesão, e... O tipo de "arte" desnecessária tanto para a obra em si como para quem a assistia, num momento de "relax".

Bom pensar que o instituto nacional de ver novela há muito ultrapassou a fase do simples entretenimento. Os folhetins são também fonte formadora de costumes. Uma gíria empregada por um ator de realce logo é repetida à exaustão, ficando entranhada no linguajar diário. O mesmo ocorre com as ações dos atores em cena. 

O desvario sexual é algo ofensivo. Prejudica principalmente a formação do caráter das crianças e dos adolescentes, que precisam de sonhos. Chega da falta de pudor demonstrada no dia-a-dia dos políticos. Basta de mensalões, malas voando de lá pra cá recheadas de dinheiro, dólares na cueca, jeitinho brasileiro para se levar vantagem em tudo...

Parecer ser este o momento de deixar o véu cair. A Igreja Católica, ao invés de combater o uso da camisinha, deveria, ao nosso ver, lutar não contra o enredo das novelas, mas pela inserção de diálogos e cenas que exaltem o amor, a vida como ela é com bons exemplos. O povo precisa sonhar, encontrar uma nova utopia. Sexo, qualquer cachorro faz. No meio da rua. 

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