- 01 de novembro de 2024
Na década de 1980, logo após a posse de José Sarney na Presidência, o país viveu um período de liberdades exacerbadas. Verdadeira ressaca da repressão. Não se tinha a real dimensão do bem e do mal em termos de liberdades individuais. Fato mais que normal, a se levar em conta a ferrenha censura que insidiosamente tomou conta das mentes ao longo de 24 anos.
Durante a vigência da ditadura, fatos inusitados deixavam qualquer um baratinado. Exemplo: nessa época o cinema brasileiro enveredou por um segmento não tão digno, mas que enchia casas de exibição país afora. A pornochanchada era o carro-chefe. Interessante que alguns censores, de tão ridículos, chegavam a ser cômicos. Cenas de sexo explícito eram permitidas, desde que a atriz pornô não mostrasse ao mesmo tempo os dois seios. Um podia.
Logo depois do porre de liberdade, que teve como marco a instalação do Poder Civil iniciado pelo fenômeno das "Diretas Já", em 1984, mesmo antes da promulgação da Constituição Cidadã (1988), era normal ver-se na TV aberta transmissões de Carnaval eivadas de cenas picantes, principalmente aquelas geradas a partir dos bailes cariocas.
Logo em seguida, parece que a vida volta ao normal e a sociedade toma um banho de civilidade, podando ações consideradas espúrias, dando à programação da TV um toque salutar. A própria mídia encarregou-se de expurgar as atitudes pernósticas que afrontavam a família brasileira.
Mas esse rasgo de juízo parece que não passou de lampejo. Hoje, é verdade, as cenas picantes produzidas nos bailes carnavalescos já não são mais vistas na TV. Tornaram-se fora de moda. Mas fizeram escola. As novelas, especialmente as da TV Globo, em nada deixam a desejar àqueles momentos de total luxúria e devassidão.
Enquanto os bailes carnavalescos eram levados ao ar em horários não-recomendáveis para menores - geralmente depois da meia-noite -, hoje, apimentadas, as cenas novelescas estão a invadir a casa dos brasileiros de qualquer idade a qualquer hora. Não importa quem esteja ao sofá.
Dia desses, na novela das sete (Bang-Bang), o mocinho chegou todo fogoso, pegou a mocinha selvagemente, arrancou-lhe as roupas, ela também demonstrando estar louca de paixão, de tesão, e... O tipo de "arte" desnecessária tanto para a obra em si como para quem a assistia, num momento de "relax".
Bom pensar que o instituto nacional de ver novela há muito ultrapassou a fase do simples entretenimento. Os folhetins são também fonte formadora de costumes. Uma gíria empregada por um ator de realce logo é repetida à exaustão, ficando entranhada no linguajar diário. O mesmo ocorre com as ações dos atores em cena.
O desvario sexual é algo ofensivo. Prejudica principalmente a formação do caráter das crianças e dos adolescentes, que precisam de sonhos. Chega da falta de pudor demonstrada no dia-a-dia dos políticos. Basta de mensalões, malas voando de lá pra cá recheadas de dinheiro, dólares na cueca, jeitinho brasileiro para se levar vantagem em tudo...
Parecer ser este o momento de deixar o véu cair. A Igreja Católica, ao invés de combater o uso da camisinha, deveria, ao nosso ver, lutar não contra o enredo das novelas, mas pela inserção de diálogos e cenas que exaltem o amor, a vida como ela é com bons exemplos. O povo precisa sonhar, encontrar uma nova utopia. Sexo, qualquer cachorro faz. No meio da rua.