Aumento do preço será inevitável, a partir de hoje, quando o derivado do petróleo passa a ter menos álcool em sua composição. Desde segunda-feira, o brasileiro enfrenta novo reajuste de combustível em alguns estados. O teor de alcool cai de 25% para 20% na composição do combustível para carros a gasolina.
Remarcações à vista: postos se preparam para reajustar preço do litro do álcool e da gasolina
Entra em vigor hoje a redução de 25% para 20% da quantidade de álcool na mistura da gasolina comum (tipo C), usada na maioria dos automóveis em circulação no Brasil. A diminuição foi definida em resolução do Ministério da Agricultura no dia 23 de fevereiro, sem previsão de quanto tempo durará. Embora a medida tenha sido definida como um meio de punir os usineiros pela quebra do acordo de manutenção do preço do álcool anidro a R$ 1,05, os donos de automóveis é que pagarão a conta.
Por enquanto, é inevitável um aumento no preço da gasolina com a redução do percentual de mistura. O motivo é que os derivados de petróleo custam mais caro do que o álcool, mesmo com a disparada de preços nas usinas. Com a elevação de 75% para 80% da quantidade de gasolina pura na composição do combustível tipo C, o preço na bomba subirá de qualquer forma nos próximos dias. As distribuidoras devem elevar o preço do produto em 4,6% ainda hoje, segundo informações obtidas pelo Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo (Sinpetro-DF).
O governo estuda a viabilidade de fazer uma manobra na tributação da gasolina para neutralizar o impacto do aumento. A saída provável é reduzir a Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide), hoje em R$ 0,28 para cada litro de gasolina consumido. Cálculos apresentados pelo Ministério de Minas e Energia na semana passada mostram que um corte de apenas R$ 0,02 anularia o efeito no preço nas bombas. A questão ainda não está fechada, pois depende do aval do Ministério da Fazenda. Nas simulações feitas pela equipe econômica, a queda da Cide para R$ 2,60 o litro teria efeito nulo sobre a arrecadação.
A participação menor do álcool na gasolina pode durar muito tempo. A resolução deve vigorar, pelo menos, até o fim do ano, segundo o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues. Em dezembro, termina a próxima safra de cana-de-açúcar e, dependendo dos estoques, o governo pode mudar de opinião. Com a queda na mistura, aproximadamente 100 milhões de litros de álcool por mês deixarão de ser adicionados na gasolina, o que contribuirá com o abastecimento de combustível até o fim da entressafra, em 1º de maio. A última mudança no percentual da mistura foi em 2003 e durou cinco meses.
Para dar a garantia (de abastecimento de álcool) ao consumidor brasileiro, e até por uma questão de postura, o governo quer examinar com mais profundidade o assunto. Seguramente, a mistura vai ficar em 20% pelo menos até o final do ano, com a possibilidade de continuar, afirmou o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues.
Nas alturas As medidas do governo para conter o salto do preço do álcool hidratado, vendido nas bombas, ainda não surtiram efeito. Anteontem, o combustível comercializado no Distrito Federal ultrapassou pela primeira vez os
R$ 2 por litro. Em alguns postos do Plano Piloto o álcool já está em R$ 2,18 e a alta está apenas começando. O presidente do Sinpetro-DF, José Carlos Ulhôa, aposta que o preço chegue em breve a R$ 2,35 para compensar os aumentos feitos pelos usineiros e pelas distribuidoras.
Para o ministro Roberto Rodrigues, há um claro movimento especulativo puxado pela ameaça de desabastecimento. Rodrigues conta que, em janeiro, o governo recebeu garantias de que a oferta de álcool estava compatível com a demanda. No entanto, em reunião na semana passada, os usineiros afirmaram que, surpreendentemente, a compra prevista de álcool pelas distribuidoras para todo o mês de fevereiro, tinha sido consolidada em 12 de janeiro. Na hipótese mais conservadora, a oferta e a demanda estão tranqüilamente equilibradas. Não há razão para faltar álcool, pois o estoque é suficiente, garantiu o ministro.
Pelos cálculos do governo, até maio, quando todas as usinas do Centro-Sul estarão produzindo, o mercado terá 2,4 bilhões de litros de álcool, 200 milhões a mais do que o consumo aguardado até maio. Esse valor é a soma de 1,6 bilhão de litros que estão em estoque atualmente e mais 800 milhões que os usineiros prometeram produzir antecipadamente para garantir o abastecimento. Os 100 milhões de litros por mês economizados com a redução do álcool na gasolina nem chegaram a ser incluídos na provisão estimada pelo governo.
Com isso, após o gargalo de oferta estreita ser ultrapassado, a partir de maio, nós vamos ter excedentes de etanol e oferta tranqüila. Com a redução na mistura, podemos ter muito mais estoques no ano que vem de tal forma que a nossa expectativa é de que esse quadro não se repita, concluiu o ministro da Agricultura.