- 01 de novembro de 2024
Além de viver eternamente na contramão, a esquerda tapuia evidenciou nesta semana todo o peso de sua carranca ao mirar seus estilingues no comentário bem-humorado de Marcos Augusto Gonçalves, editor da Ilustrada, sobre o líder do U2, Bono Vox (uso o nome completo que o vocalista já aposentou, pois, para mim, Bono ainda é o marido morto da cantora Cher).
Mas o que foi que Marcos disse de tão terrível para suscitar cartas iradas ao Painel do Leitor, artigos em sites de esquerda e declarações como a do ator Sérgio Mamberti, que encontrou no texto pontos em comum com "as posições da Liga Norte e de Jean-Marie Le Pen"?
Calma, que o Brasil é nosso! Por mais que o show "Vertigo" tenha agradado e por mais que o guitarrista de nome boboca, The Edge, toque para chuchu, continuo achando que as músicas do U2 parecem todas iguais. E ninguém me demove da idéia de que Bono, com seus óculos para esconder pé-de-galinha, é um megabrega. Ou será que pendurar terço no microfone e vendar os olhos tal qual um Bartimeu (o cego a quem Jesus devolveu a visão) não são recursos chinfrins, mais usados nos shows de rock gospel apresentados pela Rede Vida?
Quisera que Bono tivesse a musicalidade e o bom gosto de Sting, a quem Marcos o comparou. Mas, diferentemente de Sting, Bono tenta apaziguar a consciência dos ricos doando dinheiro aos países africanos. Isso resolve alguma coisa? Será que dar dinheiro aos ditadores africanos, para que eles comprem armas e automóveis Mercedes-Benz cada vez maiores, é a solução? Nos países que Bono tenta ajudar com seu esquerdismo quimérico, a fome é sintoma da estrutura social. Pensar que se pode acabar com ela sustentando ditaduras marxistas com dinheiro do Live Aid ou o perdão das dívidas é o mesmo que acreditar em Lula quando ele diz que "desde que o Brasil foi descoberto, ninguém fez mais pelos pobres do que a gente".
A esquerda pode não engolir ver Bono ser chamado de equivocado por ter elogiado Lula como se a corrupção no governo do PT não existisse. Mas não pode negar algumas verdades. Como a de que o Funrural (criado no regime militar) distribuirá em 2006 três vezes mais dinheiro do que o Fome Zero. Ou que não foi Lula, e sim Getúlio, quem criou a CLT e a legislação trabalhista. Nem foi Lula, e sim JK, quem industrializou o ABC. O resto é conversa fiada, populismo e garganta.