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MANOBRA DIVERSIONISTA - Márcio Accioly

O Senado deveria aproveitar a oportunidade e colocar tudo em pratos limpos. Designar a Corregedoria para averiguar declarações do engenheiro eletricista Cláudio Roberto Firmino de Oliveira que, em depoimento prestado ao MPF, acusou Jucá e a prefeita de Boa Vista de formação de quadrilha. Ele afirmou que boa parte do material comprado para a construção de um terminal de ônibus no Caimbé foi desviado para a produtora do senador.


O Jornal do Senado, na edição da última quarta-feira (22), noticiou que o senador Romero Jucá Filho (PMDB-RR), utilizou a tribuna daquela Casa para registrar sua "indignação" com relação à "invasão de sua residência e de seu escritório em Boa Vista por equipes de filmagem supostamente contratadas pelo governador de Roraima".
Imediatamente, como se fosse coisa toda arrumada, o ilustre senador que respondia pela Presidência, Tião Viana (PT-AC), "designou a Corregedoria da Casa para apurar o fato e assegurar proteção a Jucá". Afinal de contas, em que mundo nós estamos? Quem precisa de proteção?
A impressão que se dissemina, infelizmente, é a de que o Senado não tem nada a fazer, além de dar cobertura a acusados de serem prevaricadores e falsários, obrigando a população de um país sufocado, humilhado e estrangulado, suportar financeiramente verdadeira súcia de malfeitores. É preciso que cada qual cumpra seu inadiável dever.
Se os senhores senadores admitem, através da Presidência da Mesa, o escancarado desejo de proteger Filho, está implícito que a população de Roraima e do país irá ficar desprotegida. A ver navios. Se é para apurar, que se apurem as pendências.
A "indignação" do senador Filho (combinada com a rapidíssima providência de Tião Viana), contrasta com a morosidade do Conselho de Ética do Senado (presidido por João Alberto, PMDB-MA), que recebeu quatro pedidos de cassação de mandato do representante roraimense e anda fazendo ouvidos de mercador.
O Senado deveria aproveitar a oportunidade e colocar tudo em pratos limpos. Designar a Corregedoria para averiguar declarações do engenheiro eletricista Cláudio Roberto Firmino de Oliveira que, em depoimento prestado ao Ministério Público Federal (MPF), acusou Jucá e a prefeita de Boa Vista de formação de quadrilha.
Segundo o engenheiro, boa parte do material comprado para a construção de um terminal de ônibus no Caimbé, bairro da capital roraimense, foi desviado para uma produtora de vídeo de propriedade do senador. Existe desmoralização maior?
O pior de tudo é constatar sua excelência infringindo decoro parlamentar, por ser proprietário de emissoras de televisão e de radiodifusão nos estados de Roraima e Pernambuco. Afinal, que fará o Senado com relação aos quatro pedidos de cassação?
Jucá Filho tem feito tudo para calar a imprensa no estado, movendo ações e intimidando profissionais, acreditando que seu reinado é interminável. Ele tem contado com a conivência de senadores tão desonestos quanto ele, embora no Congresso Nacional deva ser assinalada a presença de muitos mandatários dignos.
Por que o Senado não investiga empréstimo milionário, arrancado dos cofres do Basa pelo senador Jucá Filho, cuja garantia oferecida foram sete fazendas inexistentes no Amazonas? Será que os homens de bem daquela Casa parlamentar constituem minoria? Será que os falsários ali dentro já conseguiram literalmente roubar a cena?
A população de Roraima precisa estar bem atenta, acompanhando o desenrolar dos acontecimentos, na defesa de seus direitos. É preciso que se repense o cenário político do estado, retirando-se dos seus quadros uma trupe que começa agindo como camundongo e, em pouco tempo, assume a postura de assustadora ratazana.
É preciso que se corte a corda oferecida de bom grado, para que esses roedores não a utilizem no enforcamento de quem os apóia. Roraima deve iniciar indispensável processo de limpeza, a partir das eleições de outubro próximo.
Já que as instituições não funcionam (porque os bandidos não permitem), mudem-se seus integrantes e reformem-se as instituições. Ainda há tempo para tanto.

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