- 01 de novembro de 2024
O gesto de seis dos sete vereadores dito situacionistas (partidários da prefeita de Boa Vista, Teresa Jucá, PPS), retirando-se do plenário da Câmara Municipal na abertura dos trabalhos legislativos de 2006, dá bem uma mostra da completa falta de preparo e total ausência de civilidade por parte de quem deveria oferecer bons exemplos.
A maioria dos nossos representantes públicos acredita que a conquista de mandato eletivo lhe dá direito a professar indisfarçável sordidez e redobrada patifaria. Exercita-se o mandato como se fosse desfrute de prêmio de loteria, e a bel-prazer.
É claramente perceptível a decadência moral na composição de nossas instituições, transformadas em vergonhoso balcão de negócios, no qual o interesse da sociedade é o que menos importa. Especialmente no Brasil, onde tudo é vendido: desde o patrimônio nacional até a honra pessoal.
Sob esfarrapado argumento de "diferenças políticas", encena-se espetáculo vergonhoso como o presenciado na Câmara Municipal na última quarta-feira (15). O Legislativo é um Poder de natureza essencialmente política.
É lá, através da argumentação e riqueza do debate, onde se processa o confronto e ajustamento das várias forças sociais representadas. Entende-se até que se manobre, na elaboração de acordos em torno de propostas conflituosas, por ocasião de votações de natureza polêmica.
Mas esvaziar o plenário no instante de abertura dos trabalhos, desrespeitando inclusive a presença do governador do estado (que lá esteve para prestigiar e estreitar relacionamento com o Legislativo da Capital), demonstra malquerença e burrice.
Deveria haver algum artigo perdido no regimento da Casa que previsse o enquadramento desse tipo de comportamento como quebra de decoro. A verdade é que Boa Vista foi insultada pelos seis vereadores que se dizem aliados da prefeita. E o fato irá ficar na memória e na história dos procedimentos desonrosos.
Quando a sociedade alcançar um nível de consciência política, em que se generalize entre cidadãs e cidadãos a necessidade de escolher representantes que saibam cumprir deveres assumidos (através da delegação do voto), fatos como esse não haverão de se repetir.
Enquanto isso não acontecer, estaremos condenados à assistência de espetáculos vexatórios, deixando expostas as dores e infortúnios de país desestruturado, onde a maganagem se acostumou a ditar normas e regras.
FIM DE UM CICLO
Registro com pesar a morte do ex-secretário de Segurança Pública de Rondônia, advogado Raimundo Corrêa de Oliveira, ocorrida em João Pessoa (PB), na última quinta-feira (16). Raimundo foi homem desprendido, generoso, prestativo e devotado aos amigos. Ex-exilado e ex-preso político era pessoa de excelente caráter.
O ex-prefeito do Recife (por três vezes) e ex-vice-governador de Pernambuco (1959-63) Pelópidas Silveira (que continua forte e lúcido para a alegria de sua legião de amigos), afirmou certa vez que o maior inconveniente de quem vive muito tempo é ter às vezes de se dirigir ao cemitério, quando pretende visitar um querido amigo.
Nem sei se irei alcançar a idade provecta de Pelópidas (92), mas entendo com clareza o significado de sua colocação. Porque há pessoas que partem com antecedência e já nos obrigam precocemente àquele funesto exercício. Como Raimundo. São tantos os que se vão numa faixa etária em que muito ainda tinham para oferecer...
Raimundo foi um querido amigo que irei visitar algum dia na sua última morada.
Email: [email protected]