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Gato escaldado

Enquanto os argumentos pueris e negativistas predominarem, aventureiros e carreiristas de plantão vão às nuvens, sabendo que não terão qualquer oposição a lhes ameaçar a rapinagem. Continuarão dando as cartas, abarrotando as burras às custas dos cofres públicos.


Os leitores deste Fontebrasil tiveram verdadeira aula de cidadania ao ler a entrevista do juiz aposentado e professor de Direito Constitucional Jorge Barroso, postada no início desta semana. Em rápidas palavras, Barroso desenhou um cenário mais que desejado para a vida público-partidária brasileira, onde o cidadão de bem, antes de fugir da política, tem, sim, obrigação de se lançar como candidato, desde que não tenha impedimentos formais.

Somente submetendo novos quadros ao julgamento popular, nomes de cidadãos de bem que tenham ao longo da vida adquirido o respeito da comunidade, é que a administração pública em todos os níveis poderá se desvestir do velho, do retrógrado, das práticas espúrias, onde o comum é a mistura atávica do público com o privado, sempre em detrimento do erário.

Quanto mais pessoas da estirpe de Jorge Barroso decidirem encarar o desafio de se colocar de peito e alma abertos ao julgamento das urnas, mais expurgados da vida pública serão os descredenciados, corruptos, traquinas e oportunistas que hoje, de forma arraigada, abusam dos cofres públicos e da paciência nossa de cada dia em proveito próprio, chamando-nos de bobos, nós, os eleitores que, desavisadamente, os colocamos nos postos de relevância.

É comum ver pessoas sérias dizendo não querer se envolver com política partidária em razão dos exemplos paridos nas entranhas dos parlamentos ou dos gabinetes de cargos eletivos no Executivo. Tal axioma não passa de redondo engano. Não é porque uma maçã ou mesmo a metade da caixa esteja estragada que não se deva mais comer maçã.

Enquanto os argumentos pueris e negativistas predominarem, aventureiros e carreiristas de plantão vão às nuvens, sabendo que não terão qualquer oposição a lhes ameaçar a rapinagem. Continuarão dando as cartas, abarrotando as burras às custas dos cofres públicos. E o eleitor, sem opção de mudança, terá que continuar ouvindo de quem deveria tomar decisão enérgica contra a "bandalha" um simples e amarelo: "Ah, eu não sabia!".

O processo democrático se fortalece na alternância de poder. Já que no Brasil não se pratica a cultura de partidos fortes, com programas de governo definidos dentro de um prisma ideológico - veja que o PT assumiu o governo sem programa de governo, vendo-se obrigado a dar prosseguimento ao do partido que substituiu, de forma capenga -, essa deficiência pode e deve ser suprida pelo surgimento de novos quadros. Quadros com nova mentalidade.

Dizer que o brasileiro vota com a barriga e que por conta disso nada se pode fazer é mais um paradigma que precisa ser desfeito nesse emaranhado de equívocos políticos. Há quem venda o voto porque há quem se proponha a pagar por ele. Essa prática deve e será banida com o surgimento de pessoas comprometidas não consigo próprias, mas com a sociedade.

Que venham os candidatos com o pé no chão. Nada de messiânicos, de salvadores da pátria. Diante destes, já nos vemos como gatos escaldados.

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