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Boa Vista e sua efervescente cultural - Francisco Espiridião

Não é à toa que os artistas Eliakin Rufino e Neuber Uchoa, conhecidos por difundir a música regionalista, conseguem emplacar nesta sexta-feira (17), às 20 horas, no subsolo do Palácio da Cultura, a sexta semana consecutiva de seu show acústico, mais aberto, mais globalizado.


Negue quem quiser, mas Boa Vista, a Capital mais setentrional do Brasil, não é mais a mesma. A cada dia surge uma novidade a deixar os saudosistas de cabelo em pé, em alguns casos, e entusiasmados, em outros.

Os costumes remanescentes de tempos primórdios - advindos da época em que a hoje pujante Capital não passava de uma bucólica fazenda plantada na esquina do conhecido e decantado "Meu Cantinho", redondezas da atual Praça Barreto Leite -, se fundem aos importados de terras longínquas em velocidade meteórica, sem, no entanto, perder sua importância no cerne da gente da terra de Macunaima.

Longa Temporada
Não é à toa que os artistas Eliakin Rufino e Neuber Uchoa, conhecidos por difundir a música regionalista, conseguem emplacar nesta sexta-feira (17), às 20 horas, no subsolo do Palácio da Cultura, a sexta semana consecutiva de seu show acústico, mais aberto, mais globalizado, onde costuram um repertório que passeia por vários gêneros, excluindo, é claro, a percussão, "para primar pelo não ensurdecimento da platéia".

Eliakin e Neuber, juntamente com um terceiro não menos conhecido, Zeca Preto, formaram nos anos  80 e 90 o grupo Roraimeira, tendência musical voltada para o regionalismo, onde o carro-chefe foi, sem dúvida, a música que deu nome ao movimento, que falava de "nossa aldeia", de rede capitiana, cruviana, Kanaimé e tantas outras riquezas do imaginário local que só quem é macuxi, no sentido estrito da palavra, conhece bem. Algo parecido com a tradicional paçoca com banana.

A manutenção de um show com temporada tão extensa é algo inédito em Roraima. Foi programado para nove semanas, mas o Carnaval, às portas, quebrou o "time" da seqüência. "Mesmo com público restrito, o show precisa continuar", diz Eliakin, afirmando que está valendo a pena, por inaugurar uma nova perspectiva na população que, "já não pode mais prescindir de vida cultural permanente". Mais uma novidade.

Costumes
Eis os costumes sendo não modificados, mas acrescidos nesse caldeirão de cultura, para alegria deste povo que sabe muito bem qual a diferença entre viver sucumbido na "idade das trevas" - 30 anos atrás ou menos - para hoje, plena era da inclusão sócio-cultural e tecnológica.

É certo que nem todas as novidades chegam para melhor. Afinal, nem tudo pode ser perfeito. Mas a maioria, com certeza, traz em si essa conotação.

Por exemplo, você passa o dia inteiro quebrando cabeça no trabalho. À noite, já no começo da madrugada, pode sair em busca de atividade que venha unir o útil ao agradável. Que tal fazer compras num supermercado?

Sim, ele estará à espera, aberto até a meia-noite, a exemplo do que acontece nos shoppings das grandes capitais brasileiras. Lá estava a família Inácio - pai mãe e dois pimpolhos. Longe de esboçarem sintomas de "soninho" àquela altura, as crianças se deleitavam com a possibilidade de mexer aqui e acolá, para desespero da mãe, Cinthia. 

O pai, Eduardo, carioca de nascimento, funcionário público federal - em Boa Vista há sete anos -, disse que fazer compras nesse horário (cerca das 23h) era o ideal, por ser mais cômodo. "Menos calor e maior clima de tranqüilidade na loja".

- Boa Vista é uma cidade que reúne os mais variados tipos de usos e costumes, em razão de abrigar gente de todas as regiões brasileiras -, emplaca Eduardo Inácio, ressalvando que esse turbilhão de novidades não exclui a cultura local. Esta permanece única. "Os costumes que chegam servem para enriquecê-la ainda mais". Menos mal.

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