- 01 de novembro de 2024
Por Leonardo Ataíde
Tenho acompanhado ainda com certa perplexidade a "crise política" dos últimos meses, lá se vão 200 dias de surpresas com avalanches de denuncias, CPIs com seus testemunhos bombásticos e uma verdadeira guerra travada no seio do Legislativo Brasileiro.
Cenas de uma guerrilha política, elevando os ânimos de parlamentares, e fazendo os mesmos muitas vezes chegarem a situações limites.
Brasília se tornou um circo de horrores e infelizmente setores da sociedade embarcaram nessa odisséia.
Claro, eu também votei no Lula, e admito que foi mais no Lula do que no PT, particularmente sempre achei o Partido dos Trabalhadores por demais complexo para exercer o poder, uma militância enamorada e apaixonada, pela clássica ideologia marxista, trouxe a cabeça para o centro, mas deixou o corpo enraizado na esquerda romântica dos tempos de oposição. Conclusão; o que viríamos a testemunhar era uma miscelânea de decepções, constrangimentos, arrogância e despreparo com práticas pragmáticas outrora condenadas por eles. O PT se tornara um partido confuso.
Porém, o Programa do Governo do Presidente Lula então candidato do PT nas eleições de 2002 era interessante; impulsionar o desenvolvimento do País através da produção, tirar o docinho da boca dos banqueiros (os famigerados juros estratosféricos) sem uma possível ruptura sócio-econômica e fazer uma verdadeira revolução na área social, sobretudo na educação. Teríamos o Cristóvão Buarque como Ministro da Educação. Essas propostas eram por demais sedutoras ao eleitorado cansado da linha conservadora, reacionária e neoliberal do Governo do Senhor FHC e seu fiel escudeiro o Ministro Malan.
E o Lula venceu, e o Lula governou e o Lula fez algo, mas não fez nada que prometeu, e o Malan, bem o Malan teve aulas com uma fonoaudióloga para aperfeiçoar aquela fala mansa de caipira do interior paulista, deixou a barba crescer e mudou de nome, começou a ser chamado de Palocci, agora devidamente disfarçado estava livre para fazer o que sempre quis; ter o Superávit primário só pra ele, na mão direita; 4,25%, 4,50% ... 6%, uma festa e o Copom na mão esquerda; 19,25%, 19,5%...19,75%, uma farra. Presentearam-nos com a continuação ainda mais ortodoxa de uma política econômica neoliberal, atroz e selvagem que assola o País há anos e aumenta sua desigualdade social.
E quanto ao Cristóvão Buarque? Pois é, este foi demitido.
Porém veio a crise, e apesar de toda essa lambança do PT com caixa dois, Valérioduto, dólar na cueca, aqui vai minha crítica e um protesto a um outro lado da história que poucos estão contando e pela toada somente a própria história se encarregará de esclarecer. Falo sobre alguns integrantes da oposição e setores da mídia que vem tendo uma postura ridícula, desastrosa e muitas vezes irresponsável.
Comecemos com o Senador Artur Virgilio do AM, que quis dar uma surra em Lula, engraçado o FHC comprou a reeleição no congresso, acabou com a excelência e qualidade das Universidades, dilacerou o funcionalismo público, nos enfiou na maior ciranda de juros do mundo, estagnou nosso poder de produção por quase uma década e o digníssimo Senador nunca ensaiou nem sequer um tapinha no amigo tucano.
O ACM Neto se empolgou com o desmemoriado Senador Virgílio também quis bater no Presidente, bem que poderiam avisar para o engomadinho que se alguém deveria ser o primeiro da fila para levar uma surra em Brasília, um fortíssimo candidato para o posto poderia ser um certo político da Bahia que construiu sua carreira sendo temido por se valer de métodos pouco ortodoxos e que por acaso ele chama de avô.
E por falar no Senador Antonio Carlos Magalhães, este passou oito anos do Governo FHC sem falar em aumento de salário, de repente acordou um dia e mobilizou o Senado a aumentar o salário mínimo somente para ver o constrangimento do Governo em vetá-lo.
Enfim, expoentes da oposição em um misto de empolgação e ensandecimento esqueceram a função que lhes é de direito, a de fiscalizar com seriedade e responsabilidade todas as denúncias, e se deixaram levar por devaneios quase psicodélicos, descendo por vezes (e não foram poucas) a esfera do nível mais baixo em que uma luta política pode ser travada.
O caso da mídia é mais deprimente ainda, é constrangedor ver o "Programa do Jô" promover toda quarta-feira um debate político, que de debate não tem nada, uma mistura de humor com demagogia e populismo barato acompanhado sempre de suas meninas, três jornalistas e uma professora universitária que vale a pena ressaltar, são profissionais renomadas, sobretudo a professora Maria Aparecida de Aquino, mas que ficam envolta do gordo onipotente e megalomaníaco em uma espécie de mesa de santa ceia rindo das suas gracinhas (sem graça nenhuma). O programa que tem a pretensão de ser um formador de opinião se tornou um verdadeiro tribunal de exceção, ali se julga e se condena, sem dar o mínimo e imediato direto de defesa a quem está sendo atingido, ora se é um debate nada mais justo que convidar algumas pessoas que serão mencionadas.
Eu não me lembro do Jô ter feito mesa redonda para discutir a CPI do BANESTADO, a questão do apagão e o caso do Eduardo Jorge, um assessor do então Presidente Fernando Henrique Cardoso, que depois de 147 telefonemas ao Juiz Nicolau dos Santos Neto (ele mesmo o Juiz Lalau) e nítido tráfico de influência em outros setores do Governo ficou milagrosamente milionário e conseguiu através de uma engenharia financeira mais milagrosa ainda explicar sua fortuna.
Jô Soares é um caso raro de um sujeito que tem espaço na mídia e a imbecilidade proporcional ao seu tamanho. Outro caso é o da revista Veja, é profundamente lamentável, como um veículo com sua historia e credibilidade, hoje se presta a seguir uma linha editorial tão passional e tendenciosa.
Porém o colunista Diogo Mainardi merece uma ressalva, justiça seja feita, ele sempre declarou em críticas ácidas seu desamor ao Lula e a cúpula petista e apesar de ser um direitão burguês declarado e está tão empolgado com o sucesso da sua coluna na Revista Veja que vem delatando colegas e acusando-os de membros da imprensa petista, como o Alberto Dines do Observatório da Imprensa da TVE Brasil, Diogo Mainardi pela coerência que sempre teve contra o atual Governo, está longe de fazer parte dessa pelegada oportunista que vem mostrando a cara nos últimos tempos, embora eu nunca tenha o visto delatar colegas da imprensa tucana, e olha que tem muitos por aí.
E o Boris, ah o Boris Casoy é um capítulo a parte, quando o ancora do Jornal da Record emite sua importantíssima opinião, aquilo parece duas coisa, ou uma rixa que transpõe as idéias e se torna algo visceralmente pessoal, ou uma propaganda eleitoral de oposição, exemplo disso foi sua guerra santa travada com o Ex Deputado José Dirceu. Vindo de um jornalista de sua envergadura, sem querer parafrasear o mesmo, "Isso é uma vergonha".
Claro que sou a favor de um jornalismo investigativo, sério que denuncie em seus veículos corruptos e corruptores que exponham aos olhos da população as falcatruas que os poderosos andam fazendo com o nosso dinheiro, profissionais que emitam corajosamente sua opinião independente das conseqüências que tal ato lhes trarão. Mas o que eu estou vendo são pessoas que agem como tais, mas que outrora se acovardaram, colocaram o rabo entre as pernas e fizeram vistas grossas aos podres de governos passados e ao sabor da atual crise política, embarcaram nessa jornada passional e explícita, relegada a total ausência da racionalidade. Partidarizando a informação.