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EDITORIAL - Jornalista não é cavalo

Classe mais desunida e desmoralizada que a de jornalistas profissionais não existe em Roraima. A exemplo dos sem-teto e dos sem-terra, os jornalistas roraimenses são os "sem-moral". A falta de respeito pela classe em termos (coletivos e não individuais) tem seu nascedouro no próprio berço. Dizendo ninguém acredita, mas é a pura verdade. A explicação é algo surrealista.


Classe mais desunida e desmoralizada que a de jornalistas profissionais não existe em Roraima. A exemplo dos sem-teto e dos sem-terra, os jornalistas roraimenses são os "sem-moral". A falta de respeito pela classe em termos (coletivos e não individuais) tem seu nascedouro no próprio berço. Dizendo ninguém acredita, mas é a pura verdade. A explicação é algo surrealista. 

O presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de Roraima (Sinjoper), que tem por obrigação defender a classe, é um aguerrido defensor dos patrões. Para isso bastar ouvir e ler o que ele fala e escreve. Jamais sairá em favor de um sindicalizado, porque depende de um político dono de rede de comunicação. Como diria Boris Casoy, "isso é uma vergonha!"

No dia 7 de novembro do ano passado, o BrasilNorte demitiu sem justa causa três jornalistas - o editor-chefe, a secretária de redação e o editor de Polícia. Os três decidiram faltar ao serviço dois dias seguidos, sexta e sábado. Quando chegaram para trabalhar na segunda, estavam demitidos "ex-officio".

Agora, veja amigo leitor, as razões que levaram os profissionais a faltar ao serviço - não foi greve, diga-se de passagem -: o editor estava com cinco meses de salário atrasado, enquanto os outros dois profissionais, três meses. Passaram o mês de outubro todo ouvindo que no dia 3 de novembro seria feito o pagamento de pelo menos um salário, o que não ocorreu. E pior, nenhuma justificativa.

Agora, vamos à desunião da classe:

(1) Nenhum outro órgão de imprensa - exceto este Fontebrasil - saiu em defesa dos profissionais aviltados em seus direitos. Nenhum colega que assina coluna em jornal ou trabalha em jornal de rádio ou de TV teve coragem de escrever uma linha ou falar uma palavra de apoio aos demitidos. Bom lembrar que o jornal até hoje nada pagou aos que mandou embora. Nem os meses trabalhados. Muito menos o ajuste de contas.

(2) O presidente do Sindicato, por telefone, deu o maior apoio aos três demitidos num dia, e no seguinte concedeu entrevista ao site Roraima Hoje, falando que nada podia fazer pelos demitidos. É claro, iria ele falar contra os patrões? Morderia a mão que o alimenta? Melhor continuar omisso como sempre e salve-se quem puder.

(3) O presidente do Sinjoper não poderia ter agido com maior omissão do que aquela com que ocorreu no dia da audiência na Delegacia do Ministério do Trabalho. Prometeu que acompanharia os demitidos e na hora "H", fugiu da raia. Na hora da audiência, os três profissionais ainda ligaram para o seu celular. Ele disse que estava chegando - até hoje -. Mentira! Não compareceu.

É por essas coisas que os donos de jornais, rádios e TVs fazem e acontecem com seus profissionais. Por necessidade de emprego, estes concordam em ser tratados como escravos brancos. Um exemplo: há jornalistas com diploma e tudo que trabalham num dos jornais impressos há sete anos e jamais tiveram reajustes de salário ao longo desse tempo. A Assessoria de Imprensa da PMBV só emprega estagiários e gente próxima do presidente do Sinjoper, como a sua mulher. Enquanto isso, os concursados aprovados nécas de pitibiriba.  

Aliás, salário é o calcanhar de Aquiles nas redações de Boa Vista. O piso salarial vigente é de 1996, R$ 700,00. Naquela ocasião (10 anos atrás), esse valor representava quase sete salários mínimos. Hoje, apenas dois.

O maior jornal de Boa Vista é "useiro e vezeiro" em manter em sua redação estagiários ganhando em torno de um salário mínimo, descontos habituais à parte. Mesmo com esse irrisório salário, são obrigados em certos dias a trabalhar até oito horas por dia. Um absurdo, já que a legislação trabalhista faculta ao jornalista expediente único de cinco horas. Enquanto isso, o presidente do sindicato posa de "autoridade absoluta".

Desunida e relapsa, a classe desconhece por inteiro a batida e surrada frase "a união faz a força". Mas ainda há esperança. Nova eleição para o Sinjoper virá no meio do ano, quando o mandato da atual diretoria acaba. Então será a hora da verdade, elegendo alguém realmente comprometido com seus interesses, sem cabresto e sem rédeas pois jornalista não é cavalo.

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