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EDITORIAL - Haja cara-de-pau!

Moradores do bairro Francisco Caetano Filho (Beiral) já começam a se afligir com o suplício cíclico representado pelas enchentes do rio Branco. Temem este ano ser desalojados antes mesmo da chegada do inverno. O pior de tudo é ver que entra ano e sai ano e por parte dos governantes nenhuma providência eficaz. Governantes que, em época de eleição, sabem como ninguém pedir o voto.


Rio Branco sem praia em fevereiro; chuvas torrenciais em pleno verão; temporais extemporâneos a tirar o sono de alguns que habitam áreas de risco de alagamentos etc. Fenômenos que o roraimense está vendo e vivendo neste verão atípico, produzido por uma natureza em convulsão, que parece dar o troco a tantas agressões sofridas. Há até bem pouco tempo isso tudo seria pura ficção.

Dentro de uma ótica provinciana, há quem diga: "Até aqui tudo bem", ninguém ainda morreu em conseqüência da rebeldia da mãe natureza. E é verdade. Mas essa tranqüilidade aparente ("Até aqui tudo bem") não seria a mesma de um cristão que despenca do décimo andar e ao passar pelo oitavo lhe perguntam como está indo?

A desorganização total do clima que se verifica hoje é creditada pelos cientistas a um nosso velho conhecido, o fenômeno "El Niño", aquele que em 1998 provocou uma onda incontrolável de queimadas no interior de Roraima, mobilizando brigadas especializadas tanto do país como do exterior para debelar as chamas.

Importante dizer, no entanto, que toda essa fúria da natureza, que tantas vidas ceifou através da tsunami na Ásia, no fim do ano de 2004, e de tornados, vendavais, furacões e outros semelhantes ocorridos no ano passado, é conseqüência da ação predatória do homem contra o meio ambiente.

Só no ano passado, os jornais estamparam a preocupação de governos com a fúria representada pelos furacões. Nos Estados Unidos da América, em agosto, uma cidade inteira foi destruída e até hoje permanece em escombros. Trata-se da cidade de Nova Orleans, assolada pelo furacão Katrina, que deixou em seu périplo mais de mil mortos.

A previsão da passagem do Wilma e do Rita também levou pessoas em sua rota ao desespero. Mas estes foram mais condescendentes. Não chegaram com todo o ímpeto que prometiam.

Já no Brasil, em março de 2004, o litoral sul de Santa Catarina e o litoral norte do Rio Grande do Sul também tiveram lá seus dissabores com a fúria da mãe natureza. Cidades foram devastadas por ventos de até 150 Km/h, chuva torrencial deixando centenas de desabrigados, rios invadindo cidades e mar com ondas acima de cinco metros. Era o ciclone tropical.  Hoje, o Sudeste brasileiro sofre pelas chuvas.

Como disse, não podemos deixar de reconhecer que a fúria da natureza é o troco pelas agressões que vem sofrendo ao longo dos tempos. Há governos que falam em preservação ambiental, mas não movem uma palha nessa direção.

Os Estados Unidos, por exemplo, são os maiores poluidores do ar - emissão de gases que provocam buracos na camada de ozônio - e nada fazem para amenizar o desastre. Declararam-se contrários ao Tratado de Kioto. O governo americano não o assinou.

As conseqüências de tais atitudes, próprias da soberba e brutalidade humanas, têm endereço certo: as populações carentes. Sofrem caladas por não ter a quem reclamar. Em Boa Vista, por exemplo, moradores do bairro Francisco Caetano Filho (Beiral) já começam a se afligir com o suplício cíclico representado pelas enchentes do rio Branco. Temem este ano ser desalojados antes mesmo da chegada do inverno.

O pior de tudo é ver que entra ano e sai ano e por parte dos governantes nenhuma providência eficaz. Governantes que, em época de eleição, sabem como ninguém pedir o voto. Em troca, promessas faraônicas. Feitas para não ser cumpridas. Maior cara-de-pau impossível.

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