00:00:00

Escravidão atual - Por Pastor Frankembergen

Milhares de pessoas em todo o Brasil estão reduzidas à condição de escravos - das fazendas de gado na Amazônia, passando pelas carvoarias do norte de Minas Gerais e Goiás e os laranjais no interior de São Paulo às pequenas tecelagens da capital paulistana. Não a mesma escravidão, de senzalas e navios negreiros, mas outra, que também rouba a dignidade do ser humano.


Gostaria de falar sobre um assunto que foi abordado ontem pelo Fantástico: o Trabalho Escravo.

É inadimissível, lamentável que pessoas sejam escravizadas daquela maneira, que sejam tratadas pior do que os animais da fazenda. O que faz o homem maltratar assim os seus irmãos? O que justifica tamanha crueldade?

Trabalhadores passam fome, trabalham sob ameaça, com armas apontadas para ele, comem comida estragada pra não padecerem de fome. Enriquecem donos de fazenda e carvoarias e são largados à míngua. Sofrem com a falta de justiça dos homens.

Alguns conseguem escapar e têm coragem de denunciar fazendeiros e aliciadores, mas são poucos, a maioria vive presa e com medo, alguns mais ousados morrem na fuga.

Infelizmente essa é a realidade de muitos brasileiros, é um cenário cruel, constrangedor, que causa repulsa e profunda tristeza.

Milhares de pessoas em todo o Brasil estão reduzidas à condição de escravos - das fazendas de gado na Amazônia, passando pelas carvoarias do norte de Minas Gerais e Goiás e os laranjais no interior de São Paulo às pequenas tecelagens da capital paulistana. Não a mesma escravidão, de senzalas e navios negreiros, que foi legalmente extinta no país em 13 de maio de 1888. Mas uma outra, que também rouba a dignidade do ser humano, transformando-o em instrumento descartável de trabalho em fazendas, garimpos, bordéis, indústrias e estabelecimentos comerciais.

Segundo cálculos da Confederação Nacional do Trabalhadores na Agricultura (Contag), o número de trabalhadores escravizados no Brasil varia de 25 a 40 mil, sendo que as atividades de pecuária e desmatamento respondem por três quartos da incidência de trabalha escravo.

A estrutura agrária do Brasil, baseada no latifúndio e em relações autoritárias de coronelismo é o grande responsável pela escravidão contemporânea. Grandes proprietários de terra costumam agir como senhores feudais e possuem forte influência na política local e regional. Não é por acaso que o sul do Pará é onde há a maior incidência de trabalho escravo no Brasil.

Não é apenas o cerceamento da liberdade que configura o trabalho escravo, mas sim uma série de etapas. O processo inclui: recrutamento, transporte, alojamento, alimentação e vigilância. E cada qual com a existência de maus-tratos, fraudes, ameaças e violências física ou psicológica.

A equipe do Fantástico acompanhou uma força-tarefa do Ministério do Trabalho, do Ministério Público e da Polícia Federal, que procuravam flagrantes de trabalho escravo. Encontraram e a cena é cruel.

Entrevistaram alguns dos trabalhadores escravos. O que se via causava indignação, um sentimento de raiva e de piedade.

O brasileiro é um povo confiante, trabalhador, que acredita em um futuro melhor e essa sua simplicidade o torna frágil, alvo fácil para pessoas de mal caráter. Sem emprego e sem amparo acreditam nas promessas de emprego e se embrenham em fazendas distantes e escondidas. O que não esperam é terem roubada sua liberdade e sua dignidade. Deixam para trás a família sonhando em voltar, mas são enganados, têm arrancadas sua alma e sua esperança.

Infelizmente a cena flagrada não é raridade, em algumas regiões do país já foram registradas várias ocorrências de trabalho escravo.

Segundo o Ministério do Trabalho, entre 1995 a 2003 foram fiscalizadas 1.011 fazendas e libertados 10.726 trabalhadores. No ano passado foram 24 denúncias no Pará e 12 em Mato Grosso. De 2000 a 2005, 6.120 trabalhadores escravos foram libertado no Pará, quase o dobro do registrado no mesmo período em Mato Grosso. O Pará é o recordista em denúncias.

Na blitz que foi ontem ao ar, 59 pessoas foram libertadas. O dono da fazenda pode ser condenado por submeter trabalhadores à condição análoga à escravidão, além do aliciador que foi preso em flagrante e da siderúrgica que compra o carvão.

Esperamos que essas pessoas sejam julgadas e condenadas pelas barbaridades cometidas contra seres humanos. E que a justiça não tarde e não falhe.

A escravidão é produto da desigualdade social e, principalmente, da impunidade, considerando que essa prática existe também nos países desenvolvidos.

Precisamos de um sistema eficiente. Casos como esses são comuns, mas a justiça ainda é lenta.

Quem luta contra o trabalho forçado no nosso país assina a sua pena de morte, vários defensores já foram executados e muitos recebem ameaças. Exemplo disso foi mostrado no próprio jornal. Há dois anos três fiscais do trabalho e um motorista foram assassinados em Unaí durante uma fiscalização em fazendas do Município. Até hoje não houve o julgamento dos acusados de planejar o crime que aguardam o julgamento em liberdade.

Será isso justo? Quanto tempo mais a família das pessoas executadas ainda vão ter que esperar por justiça?

Até quando trabalhadores vão continuar a ser tratados como escravos?

É preciso uma solução rápida contra a exploração, já avançamos bastante no combate ao trabalho escravo, mas ainda há muito o que se fazer.

É preciso que se dê condições do povo viver dignamente, sem fome, com educação, para que não sejam presas fáceis da indústria da escravidão.

Devemos denunciar, não podemos tolerar tamanha injustiça.

Últimas Postagens

  • 01 de novembro de 2024
AGONIA DE LORD