- 01 de novembro de 2024
Gostaria de falar sobre um assunto que foi abordado ontem pelo Fantástico: o Trabalho Escravo.
É inadimissível, lamentável que pessoas sejam escravizadas daquela maneira, que sejam tratadas pior do que os animais da fazenda. O que faz o homem maltratar assim os seus irmãos? O que justifica tamanha crueldade?
Trabalhadores passam fome, trabalham sob ameaça, com armas apontadas para ele, comem comida estragada pra não padecerem de fome. Enriquecem donos de fazenda e carvoarias e são largados à míngua. Sofrem com a falta de justiça dos homens.
Alguns conseguem escapar e têm coragem de denunciar fazendeiros e aliciadores, mas são poucos, a maioria vive presa e com medo, alguns mais ousados morrem na fuga.
Infelizmente essa é a realidade de muitos brasileiros, é um cenário cruel, constrangedor, que causa repulsa e profunda tristeza.
Milhares de pessoas em todo o Brasil estão reduzidas à condição de escravos - das fazendas de gado na Amazônia, passando pelas carvoarias do norte de Minas Gerais e Goiás e os laranjais no interior de São Paulo às pequenas tecelagens da capital paulistana. Não a mesma escravidão, de senzalas e navios negreiros, que foi legalmente extinta no país em 13 de maio de 1888. Mas uma outra, que também rouba a dignidade do ser humano, transformando-o em instrumento descartável de trabalho em fazendas, garimpos, bordéis, indústrias e estabelecimentos comerciais.
Segundo cálculos da Confederação Nacional do Trabalhadores na Agricultura (Contag), o número de trabalhadores escravizados no Brasil varia de 25 a 40 mil, sendo que as atividades de pecuária e desmatamento respondem por três quartos da incidência de trabalha escravo.
A estrutura agrária do Brasil, baseada no latifúndio e em relações autoritárias de coronelismo é o grande responsável pela escravidão contemporânea. Grandes proprietários de terra costumam agir como senhores feudais e possuem forte influência na política local e regional. Não é por acaso que o sul do Pará é onde há a maior incidência de trabalho escravo no Brasil.
Não é apenas o cerceamento da liberdade que configura o trabalho escravo, mas sim uma série de etapas. O processo inclui: recrutamento, transporte, alojamento, alimentação e vigilância. E cada qual com a existência de maus-tratos, fraudes, ameaças e violências física ou psicológica.
A equipe do Fantástico acompanhou uma força-tarefa do Ministério do Trabalho, do Ministério Público e da Polícia Federal, que procuravam flagrantes de trabalho escravo. Encontraram e a cena é cruel.
Entrevistaram alguns dos trabalhadores escravos. O que se via causava indignação, um sentimento de raiva e de piedade.
O brasileiro é um povo confiante, trabalhador, que acredita em um futuro melhor e essa sua simplicidade o torna frágil, alvo fácil para pessoas de mal caráter. Sem emprego e sem amparo acreditam nas promessas de emprego e se embrenham em fazendas distantes e escondidas. O que não esperam é terem roubada sua liberdade e sua dignidade. Deixam para trás a família sonhando em voltar, mas são enganados, têm arrancadas sua alma e sua esperança.
Infelizmente a cena flagrada não é raridade, em algumas regiões do país já foram registradas várias ocorrências de trabalho escravo.
Segundo o Ministério do Trabalho, entre 1995 a 2003 foram fiscalizadas 1.011 fazendas e libertados 10.726 trabalhadores. No ano passado foram 24 denúncias no Pará e 12 em Mato Grosso. De 2000 a 2005, 6.120 trabalhadores escravos foram libertado no Pará, quase o dobro do registrado no mesmo período em Mato Grosso. O Pará é o recordista em denúncias.
Na blitz que foi ontem ao ar, 59 pessoas foram libertadas. O dono da fazenda pode ser condenado por submeter trabalhadores à condição análoga à escravidão, além do aliciador que foi preso em flagrante e da siderúrgica que compra o carvão.
Esperamos que essas pessoas sejam julgadas e condenadas pelas barbaridades cometidas contra seres humanos. E que a justiça não tarde e não falhe.
A escravidão é produto da desigualdade social e, principalmente, da impunidade, considerando que essa prática existe também nos países desenvolvidos.
Precisamos de um sistema eficiente. Casos como esses são comuns, mas a justiça ainda é lenta.
Quem luta contra o trabalho forçado no nosso país assina a sua pena de morte, vários defensores já foram executados e muitos recebem ameaças. Exemplo disso foi mostrado no próprio jornal. Há dois anos três fiscais do trabalho e um motorista foram assassinados em Unaí durante uma fiscalização em fazendas do Município. Até hoje não houve o julgamento dos acusados de planejar o crime que aguardam o julgamento em liberdade.
Será isso justo? Quanto tempo mais a família das pessoas executadas ainda vão ter que esperar por justiça?
Até quando trabalhadores vão continuar a ser tratados como escravos?
É preciso uma solução rápida contra a exploração, já avançamos bastante no combate ao trabalho escravo, mas ainda há muito o que se fazer.
É preciso que se dê condições do povo viver dignamente, sem fome, com educação, para que não sejam presas fáceis da indústria da escravidão.
Devemos denunciar, não podemos tolerar tamanha injustiça.