- 01 de novembro de 2024
Já falei a respeito de Salim Said Mustafah que saiu da Síria e, no final dos anos 50, estabeleceu-se no Estado do Amazonas. Em 2001, cinqüenta anos depois, nosso herói já tinha amplo e imponente prédio na região portuária. O comércio e o depósito ocupavam o térreo e Salim morava confortavelmente com a família no segundo andar.
Em 1980 no auge de seus negócios, Salim decidiu que era hora de comprar um carro; seguro e prático que era, optou por um furgão americano. Esta van não trazia nenhum acessório nem oferecia nenhum conforto. À guisa de economizar Salim comprou o carro pelado; equipado simplesmente com os assentos dianteiros e as laterais, onde teria vidros, eram ocupadas com chapas de aço: um carro de serviço.
O único filho do velho turco estava passando férias em casa e saiu com seu pai para visitar um patrício em bairro periférico. A direção daquele furgão lhe foi confiada, e lá se foram os dois; Salim Said era puro orgulho por estar com seu rebento circulando pela cidade em seu mais recente sonho de consumo realizado.
O rapaz estranhava muito o carro que tinha às mãos. A visibilidade tomada pelas janelas fechadas com aço fazia com que a parte traseira fosse controlada única e exclusivamente pelos retrovisores laterais.
Ao chegarem na casa do primo, já de noite, Said pediu ao pai que descesse e o orientasse nas manobras, pois teria dificuldades ao pilotar em marcha à ré:
- "Pai, me ajude. Fique aí atrás controlando... Se sentir que tem algum obstáculo, me avise".
O velho turco apeou e passou a orientar o motora:
- "Bode vim..., mais bra esquerda..., mais bra esquerda. Olha a bosta!"
Saidinho, ouvindo a última frase do pai, pensou: "Deve ter cocô de algum animal no caminho e papai não quer sujar os pneus do carro novo. Dane-se a bosta... Importante é que eu estacione em segurança..." - Assim, continuou sua marcha à ré.
De repente um forte barulho vindo da parte traseira do veículo foi sentido e a van parou abruptamente. O jovem rapaz teve a certeza de que tinha batido em algo. Ouviu, ainda, o grito desesperado de seu pai:
- "Olha a bosta, meu filha!"
Saidinho só entendeu a mensagem quando viu que tinha atingido um poste de iluminação e ouviu seu pai lastimando, quase aos prantos:
- "...Bosta elétrica, meu filha!!!"
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