- 01 de novembro de 2024
Já foi pior, mas ainda há uma trilha quilométrica a percorrer para melhorar. Trata-se aqui da política partidária como instrumento de mudança da sociedade. Por enquanto, ainda está vigendo a idéia de que os políticos se candidatam para se dar bem na vida. E, sendo verdadeiro esse axioma, por que não explorá-los de antemão? Não irão todos, pois, se dar bem após empossados nos cargos eletivos?
Nos subterrâneos do anafabetismo político, vota-se em troca de qualquer coisa. Menos pelo ideário altruísta do bem comum. Troca-se o voto por telhas, carradas de barro, areia, dúzias de tábuas, até por perecíveis cestas básicas. Basta o candidato acenar para a possibilidade de estar aberto à compra.
Ao pagar uma migalha qualquer ao eleitor, o candidato se sente inteiramente quite com o cidadão que nele votou. Ao se vir investido no cargo, já não lhe deve mais nada. Nem satisfação.
Essa concepção vesga de fazer política tem origem nos currais eleitorais, formados e comandados pelos chamados "coronéis de barranco", muito em voga no século passado. Aqueles que distribuíam o pé direito do sapato antes da eleição e, se vencessem, entregavam o pé esquerdo. Caso a pretensão malograsse nas urnas, o chicote de umbigo de boi entrava em ação.
Essa prática quase medieval cede lugar, ainda que lentamente, a outras formas mais sutis de dependência do eleitor para com o candidato. Agora, é o pagamento da conta de água, de luz, do aviar de receitas médicas etc. É impressionante como pessoas carentes congestionam as portas dos gabinetes de deputados estaduais em busca de favores os mais diversos.
Enquanto isso, algo relevante, que possa, de fato, marcar a sociedade, fica reservado às calendas gregas, ou seja, para o Dia de São Nunca.
A Assembléia Legislativa de Roraima acaba de completar 15 anos de instalação. Quantos bons projetos já foram ali votados? Falamos de projetos com "P" maiúsculo, aqueles que venham, não para favorecer nichos específicos, mas em benefício da sociedade roraimense como um todo. Existem, mas são mantidos longe do conhecimento popular.
É claro que isso tudo é reflexo de uma questão cultural. Funciona assim desde o Descobrimento. Mas precisa mudar. Podemos dizer que já houve avanços. Tímidos, mas houve. Entendemos, no entanto, que a mudança completa só se verificará a partir da efervescência da educação. Sem ela, nada se fará.
A imprensa tem papel primordial nesse latifúndio. Nós, do Fontebrasil, acreditamos que o ranço autoritário que ainda permeia redações de jornais, rádios e TVs tende a se dissipar. Ainda que numa cadência lenta. Novos talentos estão surgindo a cada dia para tornar isso realidade.
Quem sabe, com a valorização do voto, com a conscientização do eleitor quanto ao peso de sua decisão na cabine indevassável, um dia não tenhamos o prazer de lembrar com orgulho da atuação de um parlamentar no qual tenhamos votado? Uma coisa é certa: como está hoje é que não pode continuar.