- 01 de novembro de 2024
Onze crianças morreram dentro do Hospital da Criança Santo Antônio, administrado pela Prefeitura de Boa Vista, num período inferior a um mês - segunda quinzena de 2005 e primeira de 2006.
Apesar de fato mais que lamentável, que mostra a falência do segmento da saúde sob os cuidados da PMBV, os pais destas crianças mortas não precisam se preocupar. A dor que estão sentindo... deixem para lá. Esqueçam.
O importante é que o secretário municipal da Saúde, Mário Capriglione, disse em entrevista ao jornal Folha de B. Vista que o número de mortes está "dentro da normalidade da unidade", com os devidos registros no Ministério da Saúde.
Para deixar mais claro: o secretário disse, com outras palavras, que os pais que tiveram seus filhos mortos no período de 19 de dezembro a 15 de janeiro estão sendo trágicos demais diante de um fato mais que normal. "Dependendo das patologias das crianças, pode (ainda) ter aumento no número de óbitos", afirmou Capriglione.
Nós, do Fontebrasil, entendemos que as palavras do secretário da Saúde de Teresa Jucá não poderiam ter sido mais infelizes. Mostram total descaso para com a vida de seres humanos que trabalham e pagam altos impostos para ter, em contrapartida, o direito a um atendimento mais digno para si e para os seus.
Nós, que sempre procuramos deixar claro nosso ponto de vista diante das agruras que se abatem sobre a população roraimense - nosso objetivo maior -, não poderíamos deixar passar em branco tamanha desfaçatez.
Entendemos que em qualquer país sério uma autoridade que solte um despautério destes no mínimo perde o cargo, além de ser forte candidato a responder pelos seus atos nas barras dos tribunais.
Dizer que a morte de onze crianças nos leitos de um hospital em menos de um mês é algo "normal", haja vista estar dentro da normalidade aceita pelo Ministério da Saúde, não passa de violação dos direitos humanos.
Aliás, violação dos direitos humanos é algo que não falta pelas bandas de Roraima. Principalmente quando os aviltados são pessoas carentes, que não sabem seus direitos. Nem poderiam saber.
Não raro, as pessoas que perdem filhos por incompetência, negligência ou crime de prevaricação praticados pelo poder público, acreditam que isso ocorre "porque Deus quis assim". Fruto da política de exclusão praticada no País há mais de 500 anos. Afinal, manter o povo na ignorância é atitude vital para a elite sem vergonha.
Se crianças dão entrada em estado crítico no hospital e lá morrem, isso não exime o poder público de sua responsabilidade. Mostra, isso sim, o tamanho do descaso para como a vida humana, a ponto de um despreparado se intitular secretário municipal da Saúde. Uma pena.