00:00:00

EDITORIAL - A saúde está doente

Dispensável, portanto, questionar os motivos do grande número de votos que um médico recebe ao expor seu nome como candidato a uma vaga parlamentar. Afinal, a saúde dá votos! O triste em tudo isso é que os dirigentes do País, em todos os níveis, não entenderam ainda esse recado.


A saúde é um dos setores que mais rende votos em eleições. A prova está no fato de que há médicos aboletados em cadeiras representativas em todos os níveis do Parlamento, seja no mirim (Câmaras de Vereadores), como nas Assembléias Legislativas e, muito mais, no Congresso Nacional.

Só para refrescar a memória, Roraima teve, por três meses do ano passado, apenas médicos ocupando a totalidade de suas cadeiras no Senado da República. Hoje, o número caiu para dois terços. Na Câmara Federal, são dois, sendo um deles cadeira cativa. Está lá há quase dezesseis anos.

A figura do médico é revestida de certa magia. Mexe com o espírito. Talvez, e com certo grau de convicção, pela função que desempenha. Em tese, um sacerdote que tira, não o pecado do mundo, mas a dor física do ser humano. Algo com que até hoje ninguém conseguiu se acostumar.

O encantamento pelo profissional de jaleco branco e estetoscópio pendurado no pescoço, denotando aura de bondade, é tamanha, que até mesmo diante de situações de perda de entes queridos, o lesado busca confortá-lo:
-- A família 'daquele que em vida se chamou' Fulano, vem de público agradecer ao médico Cicrano pelo desvelo dispensado ao extinto em seus últimos momentos...

O affair que se estabelece entre o paciente-família e seu médico é grande, a ponto de tratá-lo não como um profissional que presta um serviço e que merece receber a devida paga. A relação, quase sempre, torna-se de favor perpétuo. Até mesmo diante de situações nada vitoriosas.

Dispensável, portanto, questionar os motivos do grande número de votos que um médico recebe ao expor seu nome como candidato a uma vaga parlamentar. Afinal, a saúde dá votos! O triste em tudo isso é que os dirigentes do País, em todos os níveis, não entenderam ainda esse recado.

A CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira), criada pela Emenda Constitucional nº 12,  de 16 de agosto de 1996, e confirmada pela Lei nº 9.311, de 24 de outubro do mesmo ano, tinha como objetivo maior arrecadar fundos para tirar a saúde da UTI.

Com o passar dos anos, o provisório virou "Permanente", enquanto a saúde continua no mesmo estado falimentar. Inicialmente, o valor cobrado sobre as movimentações financeiras (artigo 7.º da Lei) era de 0,20%. Hoje, subiu para 0,38%. E a saúde continua com falência múltipla de órgãos. 

Em Roraima, a promessa era que em 30 dias ela seria outra. Quatorze meses nos separam da data da promessa. Ainda há muito o que mudar. Os governos federal, estadual e, principalmente, o municipal - maior responsável pela saúde pública, haja vista as pessoas morarem no município - continuam fazendo ouvidos de mercador para os anseios da população.

Os postos de saúde do município de Boa Vista continuam com atendimento precário. Falta pessoal capacitado e em número suficiente; a maioria dos postos não dispõe de medicamentos básicos em suas farmácias, bem como vários deles funcionam à meia força, em razão de estarem passando por reformas nas instalações.

Exemplo de como a saúde pública municipal é tratada, a prefeita Teresa Jucá administra a cidade condenada pelo Tribunal de Contas da União em processo de desvio de dinheiro público para compra de equipamentos e materiais para o Hospital Santo Antônio. Uma vergonha!

Enquanto isso, a população se vira como pode. Em outras palavras, a saúde é um paciente em estado crítico.

Últimas Postagens