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Construtora amiga tapará mais buracos

Empreiteira que doou maior volume de recursos para campanha de partidos da base aliada em 2004 é a principal favorecida com obras em estradas. Receberá R$ 31,5 milhões pela recuperação de 4 mil quilômetros de rodovias.


Lúcio Vaz e Solano Nascimento
Da equipe do Correio

Emmanuel Pinheiro/Estado de Minas
 
A empreiteira responsável pela maior parte da primeira etapa da operação tapa-buracos, a Delta Construções, foi a que mais fez doações a partidos e candidatos nas eleições municipais de 2004 - considerando apenas as empresas que estão incluídas na ação emergencial de recuperação das estradas. A Delta, que doou 57% dos R$ 3 milhões entregues pelas 14 empreiteiras que ganharam os primeiros contratos, ficou com 22% do valor total do primeiro lote de obras nas estradas. Os partidos beneficiados pela construtora foram o PMDB (R$ 1 milhão), o PT (R$ 415 mil) e o PL (R$ 160 mil) - todos da base do governo Luiz Inácio Lula da Silva.

Os contratos da Delta na primeira etapa da operação tapa-buracos somam R$ 31,5 milhões, de um total de R$ 142 milhões. A empreiteira vai consertar 4 mil quilômetros dos 26,5 mil quilômetros incluídos nas obras emergenciais. Isso representa 22,9% do total. Nessa primeira fase, o Ministério dos Transportes está entregando as obras para empresas que já têm contratos de recuperação de estradas nos mesmos trechos agora escolhidos. Mas a operação é um serviço de emergência, não previsto no contrato inicial.

Nas eleições de 2004, a Delta doou R$ 415 mil para o Comitê Financeiro Municipal do PT em São Paulo. A candidata era a prefeita Marta Suplicy, que tentava a reeleição. Também fez doações expressivas para candidatos a prefeito pelo PMDB em vários estados. Foram R$ 300 mil para o candidato peemedebista em Campos (RJ), Geraldo Souza, R$ 119 mil para o candidato em Nova Iguaçu, Mário Filho, e R$ 100 mil para o Comitê Financeiro Municipal de Porto Alegre.

O PL, partido do ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, e do ex-ministro Anderson Adauto, recebeu três doações. O candidato do partido em Magé (RJ), Reinaldo Pinto, recebeu R$ 100 mil. Nas eleições gerais de 2002, a Delta doou apenas R$ 60 mil, sendo R$ 40 mil para o Comitê Financeiro Único do PL no Rio de Janeiro.

"Critério técnico"
A empresa Via Engenharia, que ganhou um contrato de R$ 2,6 milhões em Pernambuco, doou R$ 300 mil para o Comitê Financeiro Único do PT em São Paulo nas eleições municipais de 2004. Nas eleições de 2002, boa parte das doações das empreiteiras foi destinada ao PFL e ao PSDB. Mas o PT também recebeu contribuições das empreiteiras. A Construtora Jurema doou R$ 100 mil para o candidato do partido ao governo do Piauí, Wellington Dias. Agora, a empresa recebeu um contrato de R$ 1,3 milhão para recuperar estradas no estado.

O assessor de imprensa do Ministério dos Transportes, Jefferson Coronel, afirmou ontem que as doações eleitorais não têm relação com a distribuição das primeiros trechos. "Esse não é critério técnico para avaliar se a empresa é apta para fazer obras. Não olhamos as doações eleitorais das empresas. Isso não se mistura com capacidade técnica".

A assessora do Departamento Nacional de Infra-Estrutrura de Transportes (Dnit), Cláudia Resende, disse que não houve exatamente uma dispensa de licitação nesse primeiro lote. "Todas elas participaram de um processo licitatório. Elas tinham contratos nos mesmos trechos para recuperação das estradas, num processo de intervenção maior. Essas empresas receberam agora recursos dessa operação emergencial para tapar buracos". O Correio telefonou para a empresa Delta no início da noite de ontem, mas não encontrou nenhum de seus diretores.

O governo divulgou ontem nova lista parcial das obras do programa emergencial. A lista, divulgada pelo Dnit, relaciona 93 trechos onde haverá contratação de novas empresas. Os nomes das empreiteiras não foram divulgados, mas serão incluídos mais 7,9 mil quilômetros. Os contratos somam R$ 181 milhões. Apenas um contrato, no valor de R$ 35 milhões, prevê a recuperação de 296 quilômetros da BR-101 no Rio de Janeiro.


ESTADOS PRESSIONAM
Os secretários de Transporte dos estados exigiram ontem do governo federal o recebimento integral da parte que cabe à conservação das rodovias federais do montante total arrecadado pela Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide). Eles apresentaram uma série de condições para aceitar que a administração federal transfira a gestão de parte das rodovias federais aos governos dos estados. Além disso, reivindicaram que as rodovias a serem transferidas estejam totalmente recuperadas e com boas condições de tráfego. Esta proposta deve ser apresentada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Os estados não querem receber rodovias sem condições de tráfego e não queremos buracos", disse o presidente do Fórum dos Secretários Estaduais de Transportes e secretário de Minas Gerais, Agostinho Patrus.


Mais dinheiro para obras

O ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento (PL-AM), afirmou ontem , durante visita a obras em Curvelo (MG), que a União precisa de R$ 24 bilhões para recuperar e dar manutenção nas estradas federais do país. O valor está bem acima dos R$ 440 milhões que o governo liberou para a Operação Tapa-Buracos, mas ele estima que, em quatro anos, o total necessário pode ser investido. A fonte principal seria a Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide), mais conhecida como imposto dos combustíveis, e alvo de várias críticas por parte de governadores e prefeitos. A cada ano, ela gera aproximadamente R$ 8 bilhões aos cofres públicos."Em quatro anos, com o Ministério dos Transportes investindo cerca de R$ 6 bilhões ao ano, nós chegaremos à recuperação de toda malha viária do país", calculou Nascimento, durante a visita que fez às obras da BR-135, próximo a Curvelo, na região Central de Minas.

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