- 05 de novembro de 2024
Ullisses Campbell
Da equipe do Correio
Eduardo Knapp/Folha Imagem/21.8.05 |
Moradores de Pacaraima, vila que fica dentro da reserva, fizeram protesto na BR-174 contra a homologação: não-índios querem viver na raposa |
Mais terras reconhecidas Se tudo ocorrer conforme o programado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deverá homologar mais 35 terras indígenas este ano. Doze delas já estão em fase final de instrução pela Fundação Nacional do Índio (Funai). O procedimento de regularização de uma terra indígena é longo. Inicia-se com o estudo de identificação e delimitação, feito por técnicos da Funai, que duram, em média, quatro anos. A homologação é a última fase, na qual o presidente da República assina o decreto concordando com as conclusões dos trabalhos. Para o antropólogo Fernando Moura de Castro, da Universidade Federal do Pará (UFPA), o maior problema que o Brasil enfrenta para demarcar terras indígenas é a lentidão do governo. "A Funai é um órgão sucateado. O governo só reconhece uma área como reserva depois de muita pressão dos povos e do movimento indígena", critica. De 1998 a 2004, o Ministério da Justiça reconheceu uma média de 14 terras indígenas por ano. Segundo a Funai, a demarcação de terras indígenas no Brasil enfrenta problemas com o Judiciário, que costuma paralisar processos no órgão do governo federal para atender à reivindicação de quem é contrário à homologação. Outros entraves, segundo a Funai, são os problemas técnicos, já que as terras reivindicadas por índios ficam em lugares distantes e conflitos que ocorrem nas áreas em processos de demarcação. (UC) |
Exército pode estar treinando índios Da redação
Militares das Forças Especiais do Exército podem estar fornecendo treinamento para índios. Reportagem publicada ontem pelo jornal Extra sugere que indígenas são submetidos a exercícios de guerra no interior do país. As fotos mostram homens e mulheres, com caracteristicas indígenas, enfileirados, praticando tiro ao alvo, com armas que seriam de uso exclusivo das Forças Armadas, sob supervisão de um soldado. A reportagem sustenta que os exercícios seriam feitos anualmente. As atividades fariam parte de um treinamento da Brigada de Operações Especiais, que atua no Rio de Janeiro, em Goiás e no Amazonas. Apesar de o jornal defender que os exercícios são regulares, ainda restam dúvidas quanto ao ano e local das fotos. Ontem, a procuradora do Ministério Público Ela Wiecko afirmou que o lugar pode ser a cidade de São Gabriel da Cachoeira (AM), conhecido como "Cara do Cachorro". Na matéria, o repórter informa ter procurado um especialista em armamentos que acredita que as fotos são recentes. Diretor do Núcleo de Estudos Estratégicos da UFF, Ronaldo Leão afirma que os fuzis que aparecem nas fotos são, aparentemente, o Pára-Fal e o Colt M4. O segundo modelo é utilizado pelo Exército desde 2004, o que sugeriria que a foto foi tirada nos últimos dois anos. Procurado pelo Correio, o Exército, contestou a reportagem e informou, por meio de nota, que as imagens mostram o treinamento de tropas e não da população. Os exercícios militares "sempre contam com a participação voluntária de homens e mulheres, por ocasião dos exercícios simulados no terreno e sem munição real". As Forças Armadas ignoram o parecer dos especialistas e asseguram que as imagens são anteriores ao atual governo. "No caso questionado, mostra o treinamento de operadores de forças especiais na Amazônia, nas décadas de 1980 e 1990, naturalmente valendo-se de habitantes locais", defende-se o Exército. O Comando do Exército lança dúvidas sobre a possibilidade de as fotos serem de índios. "Em que pese a semelhança, provavelmente não se trata de uma comunidade indígena específica, já que a população no interior dos estados da Região Norte apresenta sempre nítidos traços indígenas, fruto da intensa e secular miscigenação da gente da Amazônia", diz a nota. Para o advogado do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) Paulo Monteiro, a utilização de índios em treinamentos militares é novidade. Surpreso, ele cobra explicações das autoridades. "Se isso for verdade, o Exército tem que dizer por que os índios estavam recebendo esse tipo de treinamento. Isso tem que ser esclarecido. É muito estranho", disse Monteiro, que até então só tinha conhecimento de casos de índios estimulados a se alistar. "Nunca ouvi falar de treinamento militar para civis índios ou não-índios", completa. Advogada do Conselho Indígena de Roraima (CIR), Joenia Wapichana alerta para o risco que treinamentos do gênero podem trazer: "Se isso estiver mesmo acontecendo é muito perigoso. O grau de cultura deles é diferente do da maioria da população. Eles podem usar o que aprenderam em conflitos com outras tribos", especula. "A gravidade do caso depende do grau de aculturação do grupo", diz o antropólogo Roque Laraia, professor titular da Universidade de Goiás. "Também seria importante o Exército comprovar que foi voluntária a adesão desses índios que aparecem nas fotos", acrescenta.
Gonçalo Teixeira dos Santos, administrador da Funai em Roraima O número 625 famílias que vivem dentro da reserva ainda não deixaram a região |