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SAÚDE - Hora de derreter as gordurinhas

Pesquisa aponta que o ganho de peso no abdomen pode desencadear hipertensão arterial. Na idade adulta, é preciso cuidado para evitar que os quilos a mais se transformem em problemas cardiovasculares que podem prejudicar a dentição e causar inchaços nas pernas.


Hércules Barros
Da equipe do Correio

Gustavo Moreno/Especial para o CB/20/12/05
Vanessa levou um susto quando percebeu que estava chegando à obesidade
 
As exigentes medidas dos padrões de beleza do mundo da moda ganharam a admiração dos médicos. Estudo da Universidade de São Paulo (USP) mostra que quando a fase do crescimento chega ao fim é preciso evitar crescer para os lados. Não basta manter o peso dentro do nível tolerado pelo Índice de Massa Corporal (IMC). A medida internacional usada para calcular obesidade (veja quadro ao lado) foi colocada em xeque pelos especialistas ao avaliar 1.584 funcionários do hospital paulista Albert Einstein, com idade média de 33 anos. Homens com IMC considerado normal, mas que engordaram alguns quilos com o passar dos anos, apresentaram hipertensão arterial elevada.

A maioria dos 707 homens participantes da pesquisa com valores de massa corpórea considerados normais - entre 22,5 e 25 - apresentou risco para o desenvolvimento de hipertensão arterial. Entre as 877 mulheres do estudo também foi constatada a predisposição, mas o valor não atingiu estatísticas significantes. "Cerca de 20% dos homens e 9,1% das mulheres já eram hipertensos", afirma o médico da Faculdade de Saúde Pública da USP Flávio Sarno, responsável pelo estudo.

Consciente da necessidade de manter a forma, a professora de educação física Vanessa Fonseca, 36 anos, há dois resolveu lutar contra o excesso de peso. Hoje está com 23 de IMC, mas já esteve perto de se tornar obesa, com IMC beirando os 30. Para ela, a receita contra a balança pesada foi dieta, exercício físico e força de vontade. "Comprar roupa de um número menor, para mim, é um prêmio", diz.

Vanessa promete continuar a batalha até o dia 20 de janeiro deste ano, quando pretende estar com 5kg a menos dos 74kg de hoje. "Não tenho diabetes nem hipertensão, mas corro risco de desenvolver se não emagrecer", diz.

Ganho de peso
De acordo com o estudo, conforme aumenta o valor do IMC entre os pesquisados, cresce o risco de hipertensão. O médico verificou que homens dentro desta faixa têm duas vezes mais chance de desenvolver a doença do que aqueles que apresentaram valores abaixo de 22,5. Entre obesos - IMC acima de 30 - o potencial de risco é de 12 vezes entre homens, e de 8,7 vezes para as mulheres.

O resultado da pesquisa da USP não surpreende quem trabalha com a saúde do coração. O cardiologista Brasil Caiado freqüentemente atende em seu consultório, em Brasília, pacientes com IMC normal que ganharam peso com os anos e apresentam pressão arterial elevada. "Pressão e peso estão diretamente ligados. O coração precisa de força para bombear o sangue. Quanto maior a massa, mais pressão ele vai precisar", explica.

O responsável pela pesquisa da USP alega que a constatação não significa o fim do IMC. "A medida é boa para definir parâmetros de gordura de uma população. Do ponto de vista do indivíduo é que o ganho de peso não pode ser desprezado", avalia. Pelas conclusões do médico, uma pessoa que teve o IMC calculado em 21, aos 20 anos de idade, e aos 30 passou para IMC igual a 24, continua dentro dos padrões normais de massa corpórea, mas o ganho de peso é prejudicial à saúde. Para confirmar sua hipótese, Sarno pretende expandir o teste para o público em geral.

Para estabelecer os índices de IMC, o Brasil segue os padrões definidos pela Organização Mundial de Saúde (OMS). O IMC é definido a partir do cálculo do valor do peso dividido pela altura ao quadrado. O resultado indica a quantidade aproximada de gordura geral no corpo. Quem apresenta índice de até 25 é tido como normal, entre 25 e 30 é considerado com sobrepeso, e acima de 30, é denominado obeso.

Alto risco
Além de medição de peso, altura e pressão arterial, os entrevistados pela pesquisa da USP passaram por avaliação da cintura abdominal (CA). Sarno avaliou que tanto o excesso de gordura corporal como na região abdominal estão associados ao desenvolvimento de hipertensão. Na pesquisa, os homens ficaram com CA acima de 102cm e as mulheres apresentaram cintura acima de 88cm. Para os homens, isso equivale a seis vezes mais risco de ter hipertensão, e para as mulheres, quatro vezes mais chances de desenvolvimento da doença. As medidas consideradas normais são, respectivamente, 98cm, e abaixo de 80cm.

Segundo Sarno, do ponto de vista fisiológico, não há motivo para ganho de peso com a idade. "Quem aumentou o peso comeu mais do que gastou ou comeu a mesma quantidade de sempre e gastou menos", diz. O médico lembra, no entanto, que a regra geral é aliar o pior dos dois quadros: comer mais e gastar menos, ao entrar na fase adulta. "As pessoas trabalham e não têm tempo de fazer atividade física", justifica.

12 vezes é o potencial de risco de homens obesos sofrerem com hipertensão


O coração precisa de força para bombear o sangue. Quanto maior a massa, mais pressão ele vai precisar

Brasil Caiado, pesquisador da USP


Cintura de pilão

O excesso de circunferência abdominal, conhecido como pneuzinho, deixou de ser apenas um capricho estético e passou a ser perseguido também pelos médicos.No ano passado, a gordura em volta da barriga foi objeto de estudo epidemiológico. A pesquisa Corações do Brasil, da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC/Funcor), mediu a cintura de 2,6 mil pessoas em todo o país e mostrou que 57,6% delas estão fora dos padrões recomendáveis de saúde.

Embora o número de homens e mulheres participantes da pesquisa tenha sido o mesmo, o problema é mais acentuado nas mulheres. Cerca de 37,1% delas estão acima dos 80cm de circunferência abdominal aceito como saudável, enquanto 20,5% dos homens pesquisados extrapolaram o limite de 94cm de cintura.

Sedentarismo
Segundo os especialistas do SBC/Funcor, os habitantes Nordeste e as pessoas na faixa etária dos 35 e 55 anos são os mais vulneráveis. A rápida urbanização de forma desordenada no sertão é apontada como principal causa: "A baixa renda e a falta de acesso à alimentação saudável nas cidades contribuíram para a mudança do fenótipo do nordestino", afirma o diretor-executivo da SBC/Funcor, Raimundo Marques do Nascimento Neto.

Além de sedentarismo, estresse e falta de atividade física foram apontados como condicionantes que mais influem no aumento de gordura localizada nas pessoas entre 35 e 55 anos de idade. No estudo, 46,8% dos homens e 79,5% das mulheres pertencem a esse grupo de risco.

Para o cardiologista Geniberto Paiva Campos, a gordura na região da cintura preocupa mais porque a forma dela se acumular é indicativo de que o metabolismo da pessoa não está normal. "É um dos componentes da síndrome metabólica: aumento de pressão, glicose e triglicerídeos", explica. Ou seja, apesar de a pessoa ter insulina para queimar o açúcar que chega ao organismo, ele se deposita como gordura nessa faixa do corpo, formando a cintura abdominal. (HB)


 

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