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MAL ENTENDIDOS

"Preto", "roxinho", "pregueado", "roscofe", "toba", "anel-de-couro", "furico", "fim-de-linha", "fiofó", "foquito", "foquilore", "aro-treze", "xpto", "bocá-do-fedegoso"... Estes e dezenas de outros nomes são usados para denominar o final da coluna vertebral: "o cano-de-escape".


 

"Preto", "roxinho", "pregueado", "roscofe", "toba", "anel-de-couro", "furico", "fim-de-linha", "fiofó", "foquito", "foquilore", "aro-treze", "xpto", "bocá-do-fedegoso"... Estes e dezenas de outros nomes são usados para denominar o final da coluna vertebral: "o cano-de-escape". Cada região, estado, município ou cidade deste País o conhece pelos mais variados apelidos. No Brasil, apesar de termos um só idioma, impera sermos cuidadosos e prestarmos muita atenção quando em viagens, pois dependendo do lugar uma palavra ou expressão pode ter significado totalmente diferente de outros.

"Quer dar-o-brilho?" "Vai um lustre?" "Vai graxa aí?" "Vamos brilhar?" "Vamo dar o preto?"... Estes são alguns dos termos usados pelos pequenos engraxates por aí  afora oferecendo os seus serviços.

Na rodoviária de Recife, Pernambuco, o movimento era intenso na sexta-feira santa: menino chorando, velhos reclamando, mendigos suplicando, meninas se oferecendo, famílias se despedindo, parentes se encontrando, vendedores anunciando amendoins, cocadas, pastéis, quibes, refrescos, cafés, cigarros, redes, cd´s piratex, fitas cassetes genéricas, perfumes vagabundos, scotch uísque do Paraguai, cachaças de origens duvidosas; enfim, um clima de Babel.

Chegou o ônibus velho e empoeirado proveniente de Bom Jesus da Lapa, cidadezinha perdida no meio do agreste. Aquele calhambeque estacionou e haja a descer gente suja, suada, descabelada, fedida... Muitos olhos aflitos procurando por conhecidos no meio daquela confusão. Coronel Carlos Boaventura foi o último a apear do veículo: paletó de amarfanhado linho branco, chapéu de massa descolorido pelo sol, óculos Ray-ban, corrente de ouro 14 pendendo entre o cós e o bolso direito da calça, trazendo à mão esquerda uma pequena e surrada mala de couro cru. O tipo parecia saído de algum livro de Jorge Amado.

O coronel, depois de muitos anos, resolveu passar temporada com os filhos na Capital. Cruzava aquela bagunça com dificuldade rumo ao ponto de encontro previamente acertado quando, perto dos banheiros, um negrinho, com sorriso simpático e mais branco do que sorriso de anúncio de creme dental, trazendo engatada no ombro esquerdo uma caixa de engraxate, na mão direita uma flanela que um dia foi amarela e na esquerda uma gasta e banguela escova feita de crina de burro, olhou para o Vulcabrás 752 do visitante e, quase suplicando, falou:

- Vamo dá o preto, coroné?

- Me respeite, moleque! - Respondeu-lhe, espumando de raiva, coronel Boaventura.

- Mas, coroné, é baratinho... - Argumentou o profissional da escova.

- Nem por muito dinheiro, menino. Tu num tem respeito?

- Mas, coroné, é com graxa...

- Olhe, menino, num dou o preto nem com vaselina... Chispa daqui, moleque safado!

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