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INFLAÇÃO - A menor da história

Indicador medido pelo IGP-M fecha o ano em 1,21% e vai reduzir impacto sobre os reajustes dos contratos de aluguéis em 2006. Quedas da cotação do dólar e de preços no atacado provocaram recuo do índice. O Fontebrasil publica tabela do reajuste.



Marcelo Tokarski
Da equipe do Correio

Paulo de Araújo/CB/16.10.05
Queda de 6,42% no preço dos alimentos contribuiu para a redução do Índice Geral de Preços -Mercado, medido pela FGV
 
Graças à desvalorização do dólar frente ao real, o consumidor brasileiro ganhou um bom presente de Natal para ser usado ao longo de 2006. O Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M), divulgado ontem pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), fechou o ano em 1,21%, a menor taxa de toda a história, iniciada em 1989. O recorde anterior pertencia ao ano de 1998, quando o índice ficou em 1,78%. O IGP-M é utilizado como indexador de contratos de aluguel, energia elétrica e TV a cabo. Com isso, os reajustes de contratos que vencerem ao longo do primeiro semestre dificilmente deverão superar 1,5%.

"Por subirem muito acima da inflação, todos os anos os preços administrados são apontados como os vilões da inflação. Agora, eles serão os mocinhos", brincou o economista Salomão Quadros, pesquisador da FGV. A inflação medida pelo IGP-M ficou dez vezes inferior aos 12,41% registrados no ano passado (veja gráfico nesta página). Com isso, o inquilino de um imóvel com aluguel mensal de R$ 1.000 e reajuste programado para janeiro, por exemplo, passará a pagar, no máximo, R$ 1.012,10 por mês. Se fosse no ano passado, o valor iria para R$ 1.124,10. Na ponta do lápis, o recuo da inflação representará uma economia de R$ 112 mensais, ou R$ 1.344 ao longo de um ano de contrato.

"O cenário para a inflação ao consumidor no próximo ano será bastante favorável", aposta Marcela Prada, da consultoria Tendências. Salomão Quadros explica que o forte recuo do IGP-M se deve ao comportamento do câmbio. Ontem, o dólar fechou o ano cotado a R$ 2,325, uma desvalorização de 12,4% desde janeiro. No entanto, a moeda norte-americana se recuperou em dezembro, após uma série de leilões de compra realizados pelo Banco Central (BC). "Esse aumento registrado em dezembro ainda não teve impacto no IGP-M. Na verdade, no período medido o dólar de desvalorizou cerca de 20% sobre o real, o que acabou por segurar uma série de reajustes na indústria", afirma o economista da FGV.

Por conta do câmbio, 2005 foi o primeiro ano a registrar deflação em seis dos 12 meses. Além disso, os cinco recuos de preços consecutivos entre maio e setembro também são um fato inédito - o sexto mês com deflação foi dezembro (-0,01%), época em que os preços tradicionalmente costumam subir. "Outro fator atípico foi a deflação registrada nos preços do atacado, o que nunca havia ocorrido", diz Salomão Quadros. O Índice de Preços no Atacado (IPA), que representa 60% do IGP-M, recuou 0,96% no ano, principalmente devido à queda de preço nas matérias-primas brutas (-7,99%) e nos produtos agrícolas (-6,42%). "Insumos cotados em dólar baixaram de preço, impedindo que muitos repasses de preços chegassem ao consumidor final", explica o economista-chefe da consultoria Austin Ratings, Alex Agostini.

Se os preços no atacado recuaram ao longo de 2005, o mesmo não ocorreu com o Índice de Preços ao Consumidor (IPC), que fechou o ano em alta de 4,98%, puxado pelos aumentos em transportes (9,56%), educação (5,72%) e saúde (5,59%). Alimentação, que subiu 3,03% no ano, apresentou a menor inflação entre os itens que compõem o IPC, responsável por 30% do IGP-M. Os 10% restantes são influenciados pelo Índice Nacional de Construção Civil (INCC), que fechou o ano com alta de 6,84%. De acordo com cálculos de economistas, o dólar é responsável por mais ou menos dois terços da variação do IGP-M.

Índice anormal
Para Salomão Quadros, no entanto, o IGP-M de 1,21% é considerado um índice anormal. "Não estamos vivendo num país de inflação tão baixa. Com certeza, o IGP-M vai subir mais em 2006", aposta. Os economistas esperam um aumento gradual. No primeiro semestre, a inflação acumulada nos últimos 12 meses dificilmente vai ultrapassar 1,5%, beneficiando o consumidor nos reajustes de contratos de aluguel e energia. Para Alex Agostini, da Austin Ratings, o forte recuo em 2005 já garante um bom cenário para 2006. "Isso reduz a inércia inflacionária sobre os preços administrados em 2006. Contratos com reajustes até o meio do ano serão extremamente beneficiados", afirma. Para ele, o IGP-M não deverá ultrapassar 5% no próximo ano.

O economista-chefe do banco BNP Paribas no Brasil, Alexandre Lintz, aposta num índice de 4,1% em 2006. Para ele, o aumento dos juros ao longo de 2005 barrou a inércia inflacionária que se avizinhava no início do ano. "Esse comportamento é fruto da política monetária, que ao elevar os juros apreciou o câmbio. Se o dólar ficasse em R$ 2,80, o IGP-M teria ficado em torno de 10%", pondera. "A inflação está totalmente sob controle, mas o efeito colateral é que o país crescerá menos do que o restante do mundo", afirma. Segundo ele, enquanto a economia nacional deverá crescer entre 2% e 2,5% este ano, a mundial terá expansão entre 4% e 4,5%.


 


Renda cresce 4,7% em 2005

Levantamento realizado pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), com base em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostra que a massa real de rendimentos da população cresceu 4,7% em 2005 ante o ano anterior, uma variação considerada "expressiva", na avaliação do diretor-executivo da entidade, Julio Gomes de Almeida. O aumento da renda somado à maior oferta de crédito alimenta a expectativa de que o consumo das famílias contribua fortemente para o crescimento econômico em 2006. Mas não há garantias que o incremento da massa real se reverta em consumo maior de bens industriais e agrícolas e de serviços não monitorados, ressalta o Iedi. Isso porque, os preços de bens e serviços monitorados podem subir acima dos preços livres, limitando o efeito do incremento do poder de compra da população. Outro ponto é que o aumento do crédito à pessoa física em 2005 vai demandar recursos adicionais dos orçamentos familiares para o pagamento de juros e amortizações, o que pode comprometer o consumo.

Calote maior em novembro

O índice de cheques sem fundos - medido a cada mil compensações - alcançou em novembro a segunda maior marca da história, segundo a Centralização de Serviços Bancários, a Serasa. No mês passado, foram devolvidos 20,6 cheques por insuficiência de fundos a cada mil compensados. Esse índice perde apenas para o recorde registrado em março deste ano, de 20,8 devoluções por mil compensações de cheque.

Em relação a novembro de 2004, quando o indicador era de 16,3 devoluções por mil, a expansão no volume de cheques sem fundo foi de 26,4%. Na comparação com outubro, quando foram devolvidos 19,7 cheques a cada mil compensações, houve um aumento de 4,6% na inadimplência do cheque.

Os técnicos da Serasa afirmam que o resultado de 2005 interrompe uma série de oito anos sucessivos de queda registrada de outubro para novembro. Em novembro de 1996, o indicador registrou uma elevação de 7,1% quando comparado com outubro do mesmo ano. Desde então, ocorreu variação negativa no indicador.
Segundos os técnicos, esse comportamento é reflexo da elevação do nível de endividamento da população, impulsionada pela expansão do crédito e das elevadas taxas de juros cobradas por bancos e financeiras. No acumulado de janeiro a novembro, o índice de devoluções é de 18,8 cheques a cada mil compensações. Em igual período de 2004, o indicador havia sido de 15,9 devoluções.

Compensação
Em novembro, foram compensados 157,4 milhões de documentos. Desse total, 3,2 milhões foram devolvidos por não terem fundos. Em outubro foram devolvidos, pelo mesmo motivo, 3,1 milhões de cheques dos 157,8 milhões que foram compensados.

Em novembro de 2004 foram compensados 179,7 milhões de cheques em todo o país. Desse total, 2,9 milhões não tinham fundo. Já no acumulado do ano, de janeiro a novembro, foram compensados 1,8 bilhão de cheques, dos quais 33,4 milhões voltaram por ausência de fundos. No mesmo período do ano anterior, 30,4 milhões dos 1,9 bilhão compensados voltaram por insuficiência de fundos.

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