- 05 de novembro de 2024
Para encerrar um ano tão tumultuado, as últimas decisões dos parlamentares não poderiam ser piores. O acordão partidário que salvou o mandato do deputado Romeu Queiroz (PTB-MG), um dos 19 acusados pelas CPIs de envolvimento com o mensalão, deixou o cheiro de pizza no ar. Pegou muito mal na opinião pública. Para completar o desgaste, os presidentes da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), decidiram desperdiçar R$ 93 milhões para pagar a convocação extraordinária do Congresso. A avaliação de parlamentares é de que o ano que começou ruim e terminou pior vai produzir seqüelas nas eleições de 2006. Para eles, mais da metade dos parlamentares serão mandados para casa pelas urnas, superando a renovação média de 50% registrada nos últimos anos.
"A nossa credibilidade está no fundo do poço. Há uma profunda indignação nas cidades brasileiras diante das ações do Congresso. 2006 pode ser um tsunami político", afirma Chico Alencar (PSol-RJ). A previsão é a de que os partidos diretamente vinculados à crise serão atingidos: PT, PP, PL e PTB. Entre os mais pessimistas, a análise é de que o PT irá perder quase a metade da bancada na Câmara. Elegeu 91 deputados em 2002. Poderá chegar a 50, acreditam adversários. "Espero que haja uma varredura no Congresso. Que a sociedade brasileira não vote nos partidos do mensalão. Será uma forma de punir os partidos que se envolveram na bandalheira", defende o presidente do PPS, Roberto Freire (PE). A previsão é que os eleitores tenderão buscar nomes novos, sem envolvimento com os atuais escândalos. "Quem não conseguir se explicar para a sociedade não vai se reeleger", acredita o líder do PSB na Câmara, Renato Casagrande (ES).
Mensagens
O líder do PT, Henrique Fontana (RS), aposta que até a eleição a crise perderá força e o governo Lula retomará o poder de fogo. "A oposição tenta dar uma dimensão maior do que a crise tem. À medida que as coisas forem colocadas em sua dimensão real, a força do PT será mantida", argumenta. "Acredito que, em um ano de crescimento econômico de 5%, com a retomada da ofensividade política do governo Lula, o PT pode manter a bancada."
Apesar da aparente esperança de petistas, a Câmara recebe sinais claros do desagrado da população com as denúncias de corrupção. Os e-mails dos deputados ficaram entupidos em momentos críticos do ano. A maioria esmagadora das mensagens foi de queixas. O e-mail do Departamento de Comunicação Interativa da Câmara registrou um aumento de 45% no número de mensagens recebidas. Em março, o serviço bateu recorde histórico. Foram 25.348 mensagens, praticamente todas com duras críticas à proposta do então presidente da Casa, Severino Cavalcanti, de aumentar o salário dos parlamentares. Em média, chegam 4 mil mensagens por mês na caixa de e-mail do serviço de atendimento ao cidadão. Até novembro, já haviam chegado 71.162 e-mails. Em 2004 foram 49.526 mensagens no mesmo período.
O sistema de atendimento telefônico (0800 619 619) também registrou aumento de 11%. Até o mês passado, foram 446.280 ligações, contra 395.024 em 2004. Um balanço feito por assessores da presidência da Câmara sobre os principais temas de interesse registrados em mensagens eletrônicas mostram que corrupção e nepotismo estão entre as principais preocupações. Um recado claro. (HB)