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Crônica do Aroldo - AULA PRÁTICA DE ECONOMIA

As pessoas escolhem nomes ao bel prazer; dane-se quem vai carregá-los. Existe um jogador de futebol - acho que do Coritiba - que atende por Odivan. Perguntado sobre a origem do nome, explicou que seu pai gostava muito da música "O divã" de Roberto Carlos e achou por bem homenageá-lo.


As pessoas podem até estranhar o fato de eu, vez por outra, escrever sobre personagens bons de farra. Não sei se por sina, sorte ou azar sempre estive às voltas com bons notívagos e bebedores; até porque eu também não dispenso uma boa  rodada de bebida com papo interessante. Seu João não era diferente. A idade avançada, oitenta anos, não impedia que este paraense aproveitasse a vida do jeito que gostava: pescarias, caçadas, cervejas e muiezada.

Homem simpático e inteligente trazia sorriso cativante e maroto eternamente estampado naquela cara de santo safado. Sua esposa, Gumercinda, fazia vista grossa às patifarias do nosso herói; o tempo vivido juntos fê-la convencer-se de que ali não tinha mais jeito. Talvez seu João se aquietasse com generosa porção de formicida, bala dundum ou, quem sabe, flecha envenenada com curare. Adepto da idéia de que "pra cavalo velho o remédio é capim novo", seu João escolhia suas presas mais pela idade que pela aparência. Vivia a repetir: "Meninas acima de 20 anos? Tô fora..."

Eis que o ano era 1986. Alguns aí devem se lembrar do verdadeiro caos em que se encontrava a economia brasileira. Ninguém tinha idéia de quanto ganhava ou quanto gastava. Só os banqueiros e grandes investidores faziam festa naquela ciranda financeira. Sempre sobrava mês no salário dos pobres viventes.

Bom, estávamos sentados no "Meu Cantinho", barzinho tradicional, jogando conversa fora: futebol, música, mulheres, política, carros, etc. Num movimento normal mudou-se o rumo da prosa para a situação econômica da nação e, conseqüentemente a situação financeira dos "brasileiros e brasileiras" (só pra lembrar que nosso presidente, à época, era José Sarney). Em mesa de bar todo mundo entende de tudo, naquele momento todo mundo sacava economia e tinha explicações e teses sobre a bagunça vivida nesta terra abençoada por Deus e bonita por natureza. Seu João, quieto por quase toda a noite, de repente tomou a palavra e disse com ar de sabedoria:

- Meus filhos, vocês podem até entender de economia, mas não sabem o que é inflação... - E após um gole de cerveja - Inflação é um câncer que se sente na pele... - Novo gole - Vejam bem..., tem uma menininha que saía comigo por trinta mil cruzeiros até a semana passada; hoje ela não sai por menos de cem mil... Inflação é isso.
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Como existem nomes estranhos. As pessoas não têm a mínima consideração com as crianças. Impõem-lhe nomes que pesam para o resto da vida. Conheço pessoas que odeiam seus nomes; fazem questão de escondê-los. Escondem-nos de tal forma que, às vezes, até os esquecem; só absorvem apelidos.

Trabalhei como recenseador no Censo 70. Designaram-me para colher dados no Setor Oeste do Gama, no Distrito Federal. Me segurei muitas vezes para não rir quando ouvia os nomes dos entrevistados. Naquela época o IBGE publicou uma relação com os cem nomes mais esdrúxulos que apareceram. Faz tanto tempo que não forçarei a memória para citar alguns desses impropérios.

As pessoas escolhem nomes ao bel prazer; dane-se quem vai carregá-los. Existe um jogador de futebol - acho que do Coritiba - que atende por Odivan. Perguntado sobre a origem do nome, explicou que seu pai gostava muito da música "O divã" de Roberto Carlos e achou por bem homenageá-lo.

Há aqueles que têm seus ídolos e jogam a carga nas costas dos filhos. Resulta em: John Kennedy Nogueira da Silva, Richard Nixon da Silva Oliveira, Paul John Ringo George da Mota Paranhos, Mahatma Gandhi Pinheiro Cruz, Jota Erre Alencar de Jesus, Jules Rimet Castro de Oliveira, John Travolta Paes da Paixão, Leide Diana Monteiro Domingos da Silva...

As junções de nomes são horripilantes. A vaidade das pessoas vai tão longe que, estas, fazem questão de perpetuar-se em montagens horríveis. Dane-se quem as carrega: Alguns exemplos: Rosa + Raimundo + Elaine = Rosamundaine; Rubem + Alda= Rubenalda; José + Alcimara = Josemara; Adélia + Nilton = Adenilton; Genilda + Fernando = Genilfer; Alberto + Guiomar = Albiomar; Adélia + Mário = Adelmário; Jairo + Ana = Jairana; etc.

Tem também os invertidos: Onaireves, de Severiano; Leonam, de Manoel; Rimatla, de Altamir; Esoj, de José; Oriam, de Mário... E por aí vai...

Conheço um par de gêmeos que, para não ter que pensar muito, seus pais lhes deram os nomes de José Wagner e Wagner José. Zepinheiro, meu pai, dizia que um estava indo quando o outro estava voltando. Ouvi, ainda, de duas gêmeas que, por terem nascido no dia 2 de novembro, seus pais, muito criativos, as batizaram Finadina e Defuntina.

Tem ainda  os que, atacados de narcisismo, transferem seus próprios nomes acrescidos de Júnior ou Filho em auto homenagem, como se eles próprios fossem bom exemplo de alguma coisa. Deviam deixar os filhos errar por si mesmos.

Mais grave ainda são os que sofrem não só de narcisismo, mas de síndrome
monarquista. Passam seus nomes para os inocentes, acrescidos de "Segundo" ou "II" (em romanos mesmo).

Há aqueles que fazem questão de evidenciar uma letra para os nomes de seus rebentos, tipo: Wanderley, Wanderlan, Wandernailen, Wanderléa, Wanderlô, Wanderly, Wanderlaine... (Eu e meus irmãos nos encaixamos neste exemplo; somos: Aurineide, Aleide, Aurileide, Anchieta, Auricélia, Agenor, Aroldo e Aurilene. Com agravantes: os homens são todos José e as mulheres, Maria).

Sei também de um caso interessantíssimo, um casal de gêmeos, meus colegas de sala no segundo grau cujos seus pais resolveram inovar numa horripilante criação. Mas inovaram mesmo! Pegaram seus nomes - OSMAR e NÚRIA -, intercalaram as letras, criaram a anomalia ONSUMRAIRA e, assim, batizaram a mocinha; não satisfeitos, inverteram - ARIARMUSNO - e tascaram no rapaz.
Coitados dos meninos...!

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