- 05 de novembro de 2024
BRASÍLIA - O ano no Congresso co meçou ruim e acabou pior ainda, com uma convocação extraordinária de nada módicos R$ 100 milhões no recesso, um primeiro dia de trabalho vazio e -o que é o fim- a absolvição do deputado Romeu Queiroz num acordão salva-peles.
"Em 28 anos de Parlamento, nunca vi algo tão lamentável", diz o deputado Affonso Camargo, ex-governador e ex-senador, descrevendo o troca-troca, ou pacto entre cassáveis e seus partidos. Salvar Queiroz foi um pedágio para salvar a própria pele.
Por isso, talvez, o deputado João Paulo Cunha, ex-presidente da Câmara, insistiu tanto para seu processo de cassação ser votado logo, ainda em 2005: para aproveitar a "boa" onda depois da degola de Roberto Jefferson e José Dirceu.
Cassados os dois alvos emblemáticos, é como se a Câmara respirasse aliviada e se sentisse pronta a liberar os demais. O discurso de que o Congresso "precisa dar uma resposta à sociedade" simplesmente ruiu. Não há resposta. A sociedade que se contente com as renúncias e as cabeças de Jefferson e de Dirceu.
O ano foi péssimo para o Congresso e, sob o ponto de vista político, também para o governo e para Lula. O "não" do referendo das armas está se multiplicando nas pesquisas. Não a tudo é, principalmente, não ao governo. Neste caso, à reeleição de Lula.
Houve uma contaminação em círculos. Lula perdeu o controle político, o Congresso desandou, a bagunça refletiu sobre o governo e Lula está pagando o preço dos próprios erros.
Até agora, os beneficiários são os tucanos Serra e Alckmin, mas eles logo entrarão na mira do governo e do PT. Enquanto isso, ninguém se preocupa com Garotinho, que tem muito dinheiro, um Estado forte, os evangélicos e, possivelmente, terá o PMDB -um partido com bom tempo de TV e ramificado no país inteiro.
Os eleitores estão dando um recado: "Tenham juízo". Mas, sinceramente, o Congresso parece não ter nenhum juízo. Isso vai ter um custo.