00:00:00

O triste fim de um sonho - Por Francisco Espiridião (*)

O informe do Exército está coberto de razão. As ações ajuizadas contra fazendeiros roraimenses podem ser o estopim da bomba, haja vista o tanto que o estado vem sendo espezinhado pelo governo federal. Já houve até parlamentar falando em derramamento de sangue, e outros, em resistência armada, que, no frigir dos ovos, dá no mesmo.


O governo Lula não faz nada nem deixa que a iniciativa privada faça. A prova disso é o batizado "plano de trabalho", do Incra, que envolve além de Roraima, mais cinco estados da chamada Amazônia Legal - Mato Grosso, Pará, Acre, Amapá e Amazonas. O objetivo é desapropriar fazendas ainda que produtivas, expulsando os donos de suas propriedades como se grileiros fossem.

Instituído pela portaria 466, assinada pelo presidente Rolf Hackbart e editada em 19 de outubro deste ano, o grupo de trabalho composto de oito procuradores do órgão impetrou na Justiça Federal de Roraima onze ações de retomada de terras públicas pretensamente "griladas". No estado de Mato Grosso a coisa foi mais acintosa ainda. Nada menos que 46 ações impetradas contra fazendeiros.

Em Roraima, a decisão do Incra é algo temerário, que pode gerar "grave problema político, de desdobramentos imprevisíveis", de acordo com informe confidencial produzido havia uma semana pelo setor de inteligência do Exército.

Alçado ao poder pela esperança de mais da metade do eleitorado nacional, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva é hoje o que se pode chamar de "comédia pastelão". Não faz nada e quando faz é para melar algum setor que ainda insiste em ser produtivo no país da inércia governamental.

O informe do Exército está coberto de razão. As ações ajuizadas contra fazendeiros roraimenses podem ser o estopim da bomba, haja vista o tanto que o estado vem sendo espezinhado pelo governo federal. Já houve até parlamentar falando em derramamento de sangue, e outros, em resistência armada, que, no frigir dos ovos, dá no mesmo.

Mostrando-se desiludido com a situação, não vendo sequer fagulha de esperança de emergir da lama, o senador Efraim de Morais (PMDB-PB) disse essa semana que a "máscara do governo caiu de vez" neste ano de 2005.

O senador paraibano foi generoso. Para mim, a mascara caiu não em 2005, mas logo no início de 2003. Naquela ocasião já era possível discernir a opção preferencial pelo capital, fazendo sucumbir os ideais sociais que tantos anos embalaram as hostes petistas, dos quadros mais aguerridos aos mais conservadores.

Já no limiar do governo era possível se fazer uma projeção de como seria a gestão ao longo do andar da carruagem. É tanto que ao final de 2003 cheguei a publicar uma coletânea de artigos (intitulada "Até Quando? Estripulias de um governo equivocado"), questionando atos heterodoxos praticados pelo governo. Atos estes que batiam de frente com tudo aquilo que se conhecia do PT ao longo de sua história.

No lugar do "espetáculo do crescimento", que envolvia a promessa de criação de 10 milhões de empregos no País, o que se vê é a involução. O Brasil encolhe a olhos vistos. Um exemplo prático está na região Sul, onde milhares de trabalhadores perderam seus empregos nestes dois últimos meses, em razão do fechamento de fábricas do setor calçadista. É o triste fim de um sonho. Uma pena. 
    
(*) Jornalista, membro da Academia de Letras do Brasil; e-mail: [email protected]

Últimas Postagens

  • 04 de novembro de 2024
BOLA FORA
  • 04 de novembro de 2024
NORTE INVESTIGAÇÃO