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Hora de se mexer - *Francisco Espiridião

Pode ser que Boa Vista fique pouca coisa fora da rota, em linha reta, de Puerto Ordaz a Manaus. Mas, dado a proximidade, nada que não possa ser resolvido se houver uma boa e convincente articulação política. Parece importante pensar com carinho no custo-benefício da implantação em Roraima de postos de gás natural automotivo.


 

Acordo assinado pelos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva, Néstor Kirchner, da Argentina, e coronel Hugo Chávez, da Venezuela, durante a reunião de cúpula no dia 9, sexta-feira passada, em Montevidéu, no Uruguai, pode ter conseqüências alvissareiras para Roraima.

Trata-se de acerto para os estudos de viabilidade da construção de um gasoduto que vai unir os três países. Tendo como ponto de partida o pólo produtor da cidade de Puerto Ordaz (Ciudad Guayana, na Venezuela), o gasoduto deve cruzar todo o Brasil, passando por Manaus, alcançando o Uruguai e, como destino final, a Argentina.

O ministro de Minas e Energia, Sillas Rondeau, estima que esta linha de transmissão de gás tenha uma extensão de entre 8 e 10 mil quilômetros e um custo total de entre US$ 10 bilhões e US$ 17 bilhões.

Pode ser que Boa Vista fique pouca coisa fora da rota, em linha reta, de Puerto Ordaz a Manaus. Mas, dado a proximidade, nada que não possa ser resolvido se houver uma boa e convincente articulação política. Parece importante pensar com carinho no custo-benefício da implantação em Roraima de postos de gás natural automotivo. 

Alguém pode dizer que o estado não tenha cacife político para bancar um projeto dessa envergadura. Muita gente dizia o mesmo do projeto de asfaltamento da BR-174 a partir de Manaus. Além do alto custo, havia o empecilho de ter no meio uma "intransponível" reserva indígena. A BR-174, no entanto, está pavimentada faz quase dez anos.

O linhão de Guri para trazer energia barata e confiável do complexo de Macágua para o estado foi outro projeto considerado quixotesco pelos homens de pouca fé. Opositores da idéia eram vários, não só em Boa Vista, assim como nas altas esferas da República, em Brasília. 

A construção daquela linha de transmissão de energia encontrava resistência, principalmente, entre os técnicos do Ministério de Minas e Energia. Ocorre que a tenacidade do então governador Neudo Campos, tal como se houve no caso do asfaltamento da BR-174, foi maior. O resultado está aí, para felicidade desse povo esquecido e, de certa forma, hostilizado pelo Poder Central.

O advento do gás natural em Roraima vai resolver, se não todo, pelo menos importante parcela do problema crucial que está a tirar o sono de governantes, instituições de segurança pública e de empresários ligados ao setor de venda de combustíveis no estado.

Com a oferta barata do gás natural automotivo, como já ocorre na maioria dos estados brasileiros, vai ficar difícil convencer alguém a comprar combustível trazido de forma escusa da Venezuela. Resta agora alguém comprar a idéia e batalhar por ela. A classe política - em nível federal - está, neste momento, sendo convocada para essa empreitada. Está na hora de se mexer!

 

(*) Jornalista, autor de "Até Quando? Estripulias de um governo equivocado", membro da Academia de Letras do Brasil. E-mail: [email protected]  

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