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EDITORIAL - Cega, surda e sem braços

Cumpre-se no país a profecia de Rui Barbosa, na qual chegariam dias em que os homens teriam vergonha de ser honestos. A "Lei de Gerson", aquela em que o cidadão precisava levar vantagem em tudo, é coisa ultrapassada. Nela, ainda havia certo pudor.


O Brasil vai de mal a pior. As últimas notícias do "front" não são nada animadoras. A absolvição em plenário da Câmara Federal, nesta quarta-feira, de mais um dos acusados de se locupletar com a farra do mensalão, o deputado Romeu Queiroz (PTB-MG), institucionalizou de vez o caixa 2.

Apesar de considerada como "banditismo" pelo presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Carlos Velloso, a prática de caixa 2 é recorrente em todos os partidos e, como tal, deve ser relativizada, dizem. O próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva admitiu isso. E a Câmara seguiu direitinho a lição. Mas haverá troco. Não perde por esperar.

Cumpre-se no país a profecia de Rui Barbosa, na qual chegariam dias em que os homens teriam vergonha de ser honestos. A "Lei de Gerson", aquela em que o cidadão precisava levar vantagem em tudo, é coisa ultrapassada. Nela, ainda havia certo pudor. Hoje, a coisa é feita abertamente. E nada se faz para coibir. Principalmente quando o autor da maracutaia é alguém influente politicamente.

Este parece ser o caso do senador Romero Jucá (PMDB), destituído do cargo de ministro da Previdência Social por conta de fortes apelos da mídia nacional em razão das trapalhadas que o ligam a um escândalo que envolve quase 20 milhões de reais, frangos e o Banco da Amazônia, em Boa Vista. Para adquirir o empréstimo no BASA, Jucá dera como garantia títulos de sete (número do mentiroso) fazendas virtuais.

Perdeu o cargo de ministro, mas, incoerentemente, permanece senador da República. O caso voltou à baila neste fim de semana, ressuscitado pela revista Época. O pedido de cassação do mandato dormita no Conselho de Ética, segundo a revista, porque o presidente é "aliado" de Jucá.

Hoje, a impressão que se tem é que o crime compensa em todos os sentidos. Nesta semana, um médico flagrado em 1989 agredindo um bebê de seis meses teve o crime prescrito. Nada lhe aconteceu. O garoto, hoje com 16 anos, ficou cego e apresenta problemas de locomoção. De família humilde, não estudou e passa os dias ouvindo rádio. É um adolescente introvertido e sem muitas perspectivas na vida.

O caso Richthofen é igualmente emblemático. A filha se mancomuna com o namorado e um irmão deste. A golpes de barra de ferro, assassinam os pais dela, enquanto dormiam.Ato eivado de crueldade extrema. Mesmo réus confessos, não se passaram três anos e estão todos livres, leves, soltos! 

Pelo visto, aquele velho jargão de que a Justiça é cega evoluiu. Cega, surda e, a exemplo da Vênus de Milus, também não tem braços para alcançar os poderosos.

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