- 05 de novembro de 2024
Diz um velho ditado que "- O bom cabrito não berra". Que é bem melhor esperar o desembarque de toda carruagem para observar com cuidado os rumos dos visitantes (ou recém-chegados), e tomar posição de acordo com a romaria. Principalmente quando o cabrito, metido a esperto, envereda de forma inadvertida pela astúcia de bode velho.
O Incra está fazendo um levantamento de terras griladas da União (na Região Norte do país), pois pretende reaver todas aquelas ocupadas ilegalmente. O que o órgão já apurou, em Rondônia e no Pará, coloca em maus lençóis boa parcela de políticos locais, os quais vivem com a boca no trombone e juram defender o cidadão comum.
Agora, descobriu-se novo foco de irregularidades no Amapá. Ali, o presidente da Assembléia Legislativa, deputado Jorge Emanuel Amanajás Cardoso (PSDB), foi pilhado com a mão na massa grilando vastas áreas pertencentes à União.
Na Justiça Federal do Amapá, o Incra protocolou, na última sexta-feira (09), ação para retomar as terras de sua excelência. Que tem emitido berros ensurdecedores. O problema é que algumas das chamadas "autoridades" agem como se boa parte do país lhes pertencesse (e a seus descendentes). Não se explicam as razões de tanto latifúndio.
Nos últimos meses, efetuou-se levantamento no estado de Roraima, trabalho ainda não concluído. Já se sabe que existe muita gente que comprou pequenos lotes de posseiros para transformá-los em latifúndios. Acontece que, por lei, as terras não podem ser vendidas nessa fase de regularização.
Na última quarta-feira (08), o senador Romero Jucá Filho (PMDB-RR) anunciou que o Incra, através de sua direção nacional, "decidiu suspender o trâmite das 11 ações de imissão de posse impetradas na Justiça Federal". Foi desmentido no dia seguinte.
O procurador-geral do Incra, Valdez Adriani Frias, não somente garantiu que a instituição irá manter as 11 ações movidas contra fazendeiros do estado, como disse que se pretende aprofundar o levantamento que vem implicando diversos políticos e figurões atuantes em estados da Região Norte.
Por conta de tal desmentido, o senador Filho ameaçou, inclusive, deixar a base governista. Mas apesar de ter se mostrado aparentemente indignado, a ameaça, até o momento, não se concretizou.
O problema é que muitas vezes o justo paga pelo pecador. Que o governo petista de Dom Luiz Inácio, primeiro e único, nosso amável beberrão, é incompetente e corrupto, até o leito das ruas brasileiras tem sobejo conhecimento. Mas não há como misturar alhos com bugalhos e isso os nossos chamados representantes políticos têm feito com louvor.
Confundem para governar, embora governem menos do que tumultuam. Não satisfeitos com os recursos financeiros que desviam de órgãos, autarquias, entidades e instituições diversas, apropriam-se de terras públicas e vociferam indignação. Para manterem o poder de mando, vão conseguindo por todos os meios perpetuar os mandatos.
A nossa democracia é a coisa mais desmoralizada e menos representativa que se possa imaginar. O estado de decadência alcança a sede dos três poderes sem qualquer discriminação. É preciso que as classes médias tomem consciência da necessidade de participação no processo político, extirpando um mal que tende a se espalhar por metástase.
A grilagem de terras, a apropriação da coisa pública e o descaso permanente, são males cumulativos capazes de desaguarem em incontrolável comoção social.
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