- 05 de novembro de 2024
O Brasil é hoje um país à deriva, perdido nos labirintos da incompetência. Ninguém sabe mais quem é quem. A hierarquia, que segundo o Aurélio significa entre outras definições "a graduação da autoridade correspondente às várias categorias de funcionários públicos", palavrinha tão necessária para ditar o equilíbrio de qualquer organismo minimamente instituído, perdeu-se havia coisa de três anos na República nada republicana. Em seu lugar, completa falta de norte.
Um exemplo clássico, o ácido e nada interessante bate-boca que os leitores de determinado jornal impresso local tiveram que agüentar, na edição desta sexta-feira. Um senador da República - Romero Jucá (PMDB) - queixa-se aos quatro ventos de um certo funcionário de terceira categoria - procurador-geral do Incra Valdez Adriani Frias - que lhe tascara a pecha de "incompetente".
O senador não deixou barato, é claro. Fez beicinho. Ameaçou deixar as benesses do "reino", caso a pecha não lhe seja retirada imediatamente. "Caso essa questão não seja revista, eu sairei da base governista...".
Epa! Uma dúvida. Como é mesmo a história? O senador deixa a base governista se o procurador-geral não retirar a mácula que lhe impôs ou se o homem (procurador-geral), em sua bolsalidade stalinista, mantiver as onze ações contra fazendeiros roraimenses?
Há ainda outras possibilidades nos dois textos do bate-boca: pode não ter sido o procurador-geral que chamou o senador de "incompetente", e sim, o contrário. Vai ver que foi o repórter que não conseguiu colocar no papel tudo explicadinho. Alguém já disse que "assim é se lhe parece". Mesmo assim, essa história merece maiores desdobramentos.
Deixando isso de lado, volto, a insistir que o país é hoje nau à deriva. Sonambulicamente à deriva. Desde que Roberto Jefferson jogou caca no ventilador da República, no início de junho - e lá se vão seis meses -, que não se tem uma decisão de governo que se aproveite.
Enquanto todas as nações - principalmente as em desenvolvimento - pegam carona no bonde de progresso, o Brasil está ali, amarrado, sem sair do lugar, quando não encolhendo poupo a pouco. A previsão de crescimento para este ano de 2005, antes de 3,5% - bem menor que as previsões de outros países -, já diminuiu 1,2 ponto percentual e, quiçá, não caia mais ainda. Cadê o propalado "espetáculo do crescimento"?
Enquanto isso, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que, tal como Alice, vive no mundo da lua, tranqüiliza-nos a todos: "Não se preocupem com a queda do PIB". Diz isso porque não lhe faltam recursos para as viagens internacionais nem para os remédios comprados em estoques para o Palácio do Alvorada, residência oficial de "sua majestade". Especialmente o Lexotan.
Tudo Bem. Prometo que a queda do PIB não vai me tirar o sono, presidente. Nem mesmo o próximo aumento da gasolina, que tudo indica poderá chegar aos R$ 3,10 o litro. Mesmo assim, continuo preocupado com uma coisa: a proximidade do brejo, já que a vaca caminha para ele. A passos largos.
(*) Jornalista, membro da Academia de Letras do Brasil; e-mail: [email protected]