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A ILEGALIDADE COMO NORMA - Márcio Accioly

A Folha de S. Paulo estampou na primeira página (edição de terça-feira, 06), fotografia em que membros do MST depredam veículo de engenho invadido no litoral de Pernambuco. Foi ato de protesto contra o não esclarecimento da morte de um agricultor em 2004. O Brasil se tornou, há muito, um país de não esclarecimentos e de protestos sem fim.


Brasília - A Folha de S. Paulo estampou na primeira página (edição de terça-feira, 06), fotografia em que membros do MST depredam veículo de engenho invadido no litoral de Pernambuco. Foi ato de protesto contra o não esclarecimento da morte de um agricultor em 2004. O Brasil se tornou, há muito, um país de não esclarecimentos e de protestos sem fim.

Quando a cobrança em torno de irregularidades aperta, nossas estranhas autoridades têm o costume de declarar que "não negociam sob pressão". Dizem de forma arrogante que são fortes e insensíveis a apelos, mas apenas se revelam fracos e ignorantes. Só não negocia quem não tem juízo. Esteja ou não sob pressão. Ou negociação ou revolução, caos.

É só compulsar o registro da história. Quando as massas acorrem às ruas, é porque já não se tem mais como contemporizar. Em tempos bicudos, de grave crise mundial do sistema capitalista, diz o bom senso que é melhor conversar, buscar saídas, encontrar bom termo. E é preciso que se dê um tempo na roubalheira nacional e se puna alguém.

Os meios de comunicação anunciam que o ex-presidente da Câmara dos Deputados Severino Cavalcanti (PP-PE) tem gabinete no Ministério das Cidades e ali despacha todos os dias. Existe maior absurdo?

Anuncia-se também que se costura acordo entre a bancada do PT e a do PSDB (no Senado), para pôr panos quentes na situação do senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG), deixando de lado a possibilidade de sua cassação. Azeredo foi flagrado no esquema caixa dois do publicitário Marcos Valério e está enterrado na lama até o pescoço. Que fazer?

Por isso que as instituições brasileiras são fracas. Porque se confundem com as pessoas. O corporativismo as torna vulneráveis. A maioria se lembra da declaração do hoje presidente da República, quando deputado federal (1987-91), garantindo ter encontrado na Câmara "uns 300 picaretas". Nada se fez.

O presidente do Tribunal Superior Eleitoral - TSE -, ministro Carlos Velloso, classificou de "banditismo" essa história de caixa dois e pediu penas mais severas para os infratores. O problema é que a impunidade já se tornou espécie de câncer a corroer nosso tecido social. Ninguém é preso e a impunidade campeia.

Como é que se pode admitir que Marcos Valério, e demais envolvidos no escândalo que expõe o assalto do PT aos cofres públicos, esteja solto? Delúbio Soares, em aparição recente, declarou que toda essa roubalheira irá se transformar daqui a pouco "numa grande piada de salão". Não existe maior desrespeito.

O acúmulo de tanto descaso (e o crescente sentimento de impotência que a não punição dos responsáveis vai gerando), engrossa cenário de insatisfação da grande maioria, levando as pessoas à certeza de que para se fazer justiça somente com as próprias mãos.

Daí, a preocupação com manifestações que se tornam mais e mais violentas, diante da incúria dos chamados dirigentes. Dom Luiz Inácio se mostra inteiramente despreparado para as funções. Poderia, quando muito, ser árbitro de futebol ou provador de cervejaria. É preciso que a sociedade se mobilize e reclame providências antes que seja tarde demais.

Não se tem mais como suportar o jogo de gato e rato, no qual a nação inteira se vê apenada. Há de se promover reforma política, acabando-se, inclusive, com a reeleição para os cargos no executivo, aberração construída na corruptíssima gestão FHC (1995-2003).

De maneira que tudo parece muito simples: ou se tomam imediatas providências, ou veremos o país em chamas em curto espaço de tempo.

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