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EDITORIAL - Pescoços à degola

O senador Romero Jucá, quando esteve ministro da Previdência, alegava transparência na gestão e na sua vida pública, mas seus processos correm em sigilo de Justiça por solicitação própria. Onde está a transparência, a consciência tranqüila em não esconder os argumentos para os rolos responde?


Dona Marisa Letícia Lula da Silva, mulher do presidente Lula, acaba de obter uma proeza que muitos, com maior legitimidade, não alcançaram mesmo buscando ao longo de muito tempo. O caso dos descentes. Ela ganhou cidadania italiana,  apesar de não ser parente próxima de nenhum dos patrícios de Dante Alighieri e muito menos saber articular palavra (exceto pizza) na língua de Michelangelo. A primeira-dama do País disse textualmente: "Quero buscar melhores oportunidades para meus filhos".

Questionando esse fato, a colunista Bárbara Gancia, da Folha de S.Paulo (edição impressa de 2 deste mês) disse acreditar que a razão maior de D. Marisa reside no fato dela estar farta de "viver num país que escorrega na lama".

E é verdade. O Brasil da era FHC+Lula escorrega na lama em todos os sentidos. Nestes últimos três anos, então, viu-se às voltas com um "tsulama" - tsunami de lama - como jamais ocorreu em qualquer outra época.

Não é à toa que a corrupção grassa em todos os quadrantes da administração pública. O que sangra de forma enviesada do erário se mistura com recursos privados e, no fim, tudo escorre pelo ralo da malversação e da roubalheira generalizada.

O resultado desse escoadouro são estradas esburacadas, saúde mergulhada no caos, com muita gente morrendo na porta dos hospitais, educação em seu pior nível, falta de investimento em infra-estrutura de toda espécie, segurança atingindo o mais alto grau de fragilidade diante da delinqüência que não pára de crescer, seja nas pequenas cidades como nas grandes metrópoles, a ponto de bandidos atearem fogo em ônibus lotado, assando gente, total afronta à autoridade instituída etc.

Diante de quadro tão aterrador, o cidadão comum é obrigado a conviver com insidiosas declarações de "inocência" do tipo "Ah, eu não sabia!". Outras, mais deslavadas ainda, de que são pessoas acima de qualquer suspeita: "Meu governo prima pela transparência".

Um exemplo? O senador Romero Jucá, quando esteve ministro da Previdência, alegava transparência na gestão e na sua vida pública, ao mesmo tempo em que era provado que tomara empréstimo duvidoso no Banco da Amazônia em Boa Vista, dando como garantia nada menos que sete fazendas que só existiam na cabeça dele. Fazendas fictícias.

Os processos contra Jucá correm em sigilo de Justiça por solicitação própria. Onde está a transparência, a consciência tranqüila em não esconder os argumentos para os rolos que é acusado?

Enquanto isso, a Comissão de Ética do Senado Federal faz vistas grossas aos pedidos de sua cassação em razão de haver infringido princípios largamente explicitados no artigo 54 caput, inciso II, letra a., e artigo 55 caput, inciso I, tudo da Constituição Federal de 1988.

Todos são transparentes em suas atitudes, mas ninguém fala, por exemplo, de onde saem os recursos para pagar advogados os mais caros e solicitados de Brasília. E isso, não só no caso dos processos contra Romero Jucá, mas também de José Dirceu, de Delúbio Soares, de Silvinho Land Rover...

Tudo porque o Brasil é um "país que escorrega na lama". Não fosse assim, a Receita Federal poderia muito bem colaborar e pôr as cartas na mesa. Meios para tanto, dispõe de sobra. Parece, no entanto, não ser tão conveniente assim, vez que o resultado seria a degola pura e simples de quem merece perder o pescoço. Não só o Zé Dirceu.

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