- 05 de novembro de 2024
Preocupado com a cassação do mandato de deputado federal de Zé Dirceu (PT-SP), o ex-presidente da Câmara dos Deputados João Paulo Cunha (PT-SP), participou ontem à noite de ato público na capital paulista em defesa do seu próprio. O parlamentar foi flagrado com a mão inteira dentro da cumbuca, quando sua mulher sacou 50 mil reais da conta do publicitário Marcos Valério.
Em 2002, quando candidato à reeleição (ele se encontra agora no quarto mandato federal), João Paulo Cunha participou de várias passeatas em Osasco, município da grande São Paulo (no qual mantém base política), prometendo que iria abrir "tantas CPIs quantas necessárias" para apurar desmandos praticados pelo então presidente FHC (1995-2003).
Depois de reeleito, passou a agir exatamente ao contrário. Conduzido à Presidência da Câmara dos Deputados (2003-04), agiu como assaltante dos cofres públicos, entregando a Marcos Valério contratos milionários e, ao que parece, recebendo gordas comissões por debaixo do pano.
Criou, além disso, milhares de cargos comissionados para abrigar petistas desempregados pelos resultados eleitorais contrários em municípios nos quais a legenda detinha o mando. Na tentativa de reeleição para a Presidência, a insatisfação entre o chamado baixo clero era tamanha (contra ele e também contra Dom Luiz Inácio), que resultou em Severino Cavalcanti (PP-PE).
João Paulo e José Sarney (PMDB-MA), que à época presidia o Congresso Nacional, ensaiaram a aprovação de emenda constitucional que lhes permitisse a reeleição para os respectivos cargos. O bigodudo maranhense participou de todas as tramóias que pudessem livrar o PT de embaraços, chegando incusive a impedir a instalação da CPI dos Bingos. Em vão!
Sua excelência desejava, com tal vergonhosa atitude, capitalizar votos de centenas de parlamentares envolvidos em falcatruas e que correriam o risco de denúncia e cassação. Sarney, quando foi presidente da República deixou o registro de administração das mais corruptas da história. Agiu mais uma vez de forma indecente e terminou por morrer na praia.
Nem a emenda constitucional foi aprovada, nem a CPI dos Bingos deixou de ser instalada. E aí surgiram escândalos inacreditáveis que derramam lama pela espinha dorsal de esmagadora maioria, começando pela do próprio Sarney, o qual quis colocar panos quentes na apuração dos desvios.
Pelo certo, o número de cassados no Congresso Nacional deveria ultrapassar a casa de uma centena de parlamentares. É possível que se casse uma dezena, embora os ânimos pareçam um pouco arrefecidos e a opinião pública demonstre alto grau de revolta com tanta patifaria.
Mas o certo seria cassar pelo menos um terço da quantidade apontada pelo ex-deputado federal (1987-91) e atual presidente da República, Dom Luiz Inácio (PT-SP), primeiro e único, ao declarar ter deixado na Câmara "uns 300 picaretas". Nosso amável beberrão, infelizmente, depois de se tornar primeiro mandatário optou por acobertar tudo e defender picaretas contumazes.
O certo mesmo seria a dissolução do Congresso Nacional e a convocação de novas eleições, impondo-se medidas moralizadoras. É preciso acabar com esse tipo de votação viciada que nada representa em termos democráticos. O distanciamento entre a chamada classe política e seus representados é palpável.
De forma geral, são poucos os que ainda merecem respeito por parte dos cidadãos, visto que a maioria dos mandatos eletivos é abertamente comprada. Esse distanciamento, juntamente com as bandalheiras do dia-a-dia, gera revolta incontida que dificilmente se vê extravasada. Daí, as bengaladas sofridas por Zé Dirceu, desferidas por cidadão indignado.
E para constranger ainda mais o governo corrupto do PT, eis que o PIB (Produto Interno Bruto) nacional sofreu queda vertiginosa no terceiro trimestre, revelando que a economia só vai bem na propaganda oficial.
Como o Brasil reserva soma fabulosa de recursos financeiros para pagamento de juros (no superávit primário), os meios de comunicação (a maioria a serviço do capital mundial) não deixam de tecer loas ao desgoverno federal. Mas o fato é que estamos em inegável descenso. Promover eleições gerais, com reformas profundas no sistema eleitoral, ofereceria algum alento.
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