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EDITORIAL - Desordem e impunidade

O contrabando de combustível não é crime novo em Roraima. Data de vários anos. O aparelho policial conta com todos os elementos necessários para coibi-lo. As Polícias Federal e Rodoviária Federal, por exemplo, dispõem de informações sobre quem são, como e quando agem os envolvidos.


Boa Vista viveu situação inusitada durante 38 horas, entre segunda-feira e início da noite de terça. A decisão unilateral dos donos de postos de combustíveis de lacrar as bombas, do ponto de vista constitucional foi e é algo inconcebível. A ordem foi flagrantemente desrespeitada.

A razão argüida pelos empresários, apesar de politicamente correta, teve alvo equivocado. Ao espernear contra atividade que redunda em perda de parte do lucro, objetivo natural nas economias capitalistas, penalizaram o consumidor, que, tal como o marisco, nada tem a ver com a briga do mar contra o rochedo. 

O contrabando de combustível não é crime novo em Roraima. Data de vários anos. O aparelho policial conta com todos os elementos necessários para coibi-lo. As Polícias Federal e Rodoviária Federal, por exemplo, dispõem de informações sobre quem são, como e quando agem os envolvidos.

Acabar com tal desmando seria algo fácil, como buscar jerimum no roçado, caso houvesse real interesse. Mas o que se vê é uma queda de braço inócua entre o governo do estado e a União, sem que esta esteja nem um pouco preocupada com o que acontece neste rincão de Macunaima.

O resultado é o aumento diário do número de pampeiros que cruzam a fronteira buscando angariar o pão-de-cada-dia, ainda que na clandestinidade A impunidade nesse caso funciona como um incentivo a mais.

Saídas existem. A "Operação Pacaraima", realizada havia cerca de dois meses por um pool de organismos de segurança e do fisco, é exemplo mais que patente. A barreira implantada na BR-174, próximo à entrada da cidade fronteiriça de Pacaraima, conseguiu reduzir o contrabando e descaminho de combustíveis, proporcionando certo desafogo aos empresários do setor. A retirada do posto de fiscalização, por sua vez, acirrou a prática do ilícito, que tem na falta do que fazer em Roraima sua maior justificativa.

Decisão por parte dos governos soa como urgente, no sentido de que a polícia e os fiscais das Receitas - estadual e federal - sejam reconduzidos àquele ponto de estrangulamento, sob pena de todos perderem: o estado e a União, que não terão como reaver os impostos sonegados; os donos de postos, a razão de continuar trabalhando, dando emprego e gerando riquezas para o estado; e, muito mais os consumidores, que arriscam usar combustível incompatível com o motor de seus veículos. Prejuízo certo.

Em todo esse imbróglio fica claro o "estupro" praticado pelo governo federal contra o bolso do brasileiro, especialmente do roraimense. Não é fácil digerir a idéia de que a menos de 250 quilômetros de distância pode-se comprar um litro de gasolina a R$ 0,20, enquanto nas bombas locais custa nada menos que R$ 2,89. Durma-se com um barulho desses. Se for possível.

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