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Crônica do Aroldo - PONTO FACULTATIVO

Um secretário de Estado me aconselhou: "Assume, cara... Assume, eu te requisito para a minha Secretaria, te arranjo um CC* e tu nem precisas aparecer na repartição". Quer dizer, eu me transformaria em gafanhoto oficial.


 

Não gosto de política. Se puder, evito tratar do assunto. Não posso me dizer apolítico; seria estúpido. O simples relacionamento humano é política.

 

Temos no Estado de Roraima, ao longo do ano, 15 feriados nacionais, 1 feriado estadual e 4 municipais. Se um destes cai numa terça ou numa quinta-feira, o Executivo Municipal e/ou Estadual decretam ponto facultativo que, de facultativo não tem nada; é feriadão mesmo. O barnabé aproveita para esticar estes feriadões e no dia de voltar ao batente não aparece em sua repartição alegando estar "cansado do fim de semana prolongado". A indústria e o comércio há tempos resolveram fazer vista grossa e desrespeitar estes dias de folga - que são muitos e absurdos. Quanto tempo perdido e quanto se deixa de produzir em função de tanta folga? O bom empresário sabe que alguns minutos com as portas fechadas, implicam em queda de faturamento e, conseqüentemente, lucratividade.

 

No dia 16 de novembro de 2005 a Assembléia Legislativa do Estado de Roraima, com 13 votos favoráveis e duas abstenções, aprovou projeto do deputado estadual Eliseu Alves que concede ponto facultativo ao servidor público no dia do seu aniversário. A Casa é composta por 24 deputados; os nove representantes do povo que não compareceram à votação estavam "facultando os seus pontos"?

 

Prestei concurso público para Agente Administrativo do Governo do Estado. Fui aprovado e convocado a assumir o cargo. Pesando prós e contras, decidi que dedicar-me à minha loja seria mais vantajoso. Antes de optar, entretanto, um Secretário de Estado me aconselhou: "Assume, cara... Assume, eu te requisito para a minha Secretaria, te arranjo um CC* e tu nem precisas aparecer na repartição". Quer dizer, eu me transformaria em gafanhoto oficial. Gafanhoto concursado e comissionado.

 

Grande parte dos servidores públicos dá-se o direito de chegar meia hora após o início do expediente matutino, fazer um intervalo de pelo menos trinta minutos para merendar, sair durante o expediente para resolver assuntos particulares e abandonar a sala antes do final do expediente "para apanhar menino no colégio ou esposa no trabalho". À tarde, a rotina é bem parecida.

 

Depois de sancionada a lei do nobre deputado, imagino o diálogo do barnabé com seu chefe:

- Chefinho, preciso de três dias de folga.

- ...?

- Seguinte: quinta-feira é meu aniversário e eu vou me facultar. Quero fazer um churrasco pros colegas e preciso da quarta-feira pra providenciar carne, carvão, farinha, gelo, cerva, pinga, refri, mesas, cadeiras..., essas coisas. Na sexta, sei que vou acordar mais tarde, pois a festa vai varar a noite e tenho que providenciar a arrumação da bagunça que o povo vai deixar. Ai, meu Deus! Ainda bem que logo vem o final de semana e eu vou poder descansar... Ah!? O senhor pode dispensar o Ribinha pra me ajudar na festa?

 

*CC - Cargo de confiança

 

e-mail: [email protected]

 

 

 

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